É falso que a vacina AstraZeneca transmita mpox

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Esta verificação foi realizada por uma equipe de jornalistas envolvidos no Projeto Comprova, cujo objetivo é combater a desinformação, e o Metrópoles é um dos participantes. Saiba mais sobre essa parceria aqui.

Conteúdo Investigado: Uma publicação destacou a bula da AstraZeneca, associando o componente “adenovírus de chimpanzé” ao mpox.

Local da Publicação: Telegram e X.

Conclusão do Comprova: É falso afirmar que a vacina AstraZeneca está relacionada ao mpox, conhecido anteriormente como varíola dos macacos. Na realidade, o imunizante possui um adenovírus recombinante de chimpanzé, um vírus não correlacionado com a mencionada doença. Essa informação foi confirmada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e por dois especialistas consultados pelo Comprova.

O adenovírus presente na vacina serve unicamente como veículo para transportar o material genético do coronavírus, desencadeando uma resposta imunológica no indivíduo vacinado. Este vírus não é patogênico. Mesmo que fosse, pertence à família Adenoviridae, diferente do agente causador do mpox da família Poxviridae.

A equipe de reportagem tentou entrar em contato com as contas do X e do Telegram que compartilharam o conteúdo, mas não foi possível devido à falta de espaço para o envio de mensagens.

Para o Comprova, o termo “falso” refere-se a informações inventadas ou alteradas com o intuito deliberado de espalhar falsidades.

Abrangência da Publicação: O Comprova investiga conteúdos suspeitos com grande alcance nas redes sociais. No Telegram, a publicação alcançou mais de 5 mil visualizações até o dia 26 de agosto de 2024. No X, nessa mesma data, o conteúdo atingiu 19,2 mil visualizações, 808 curtidas e 326 compartilhamentos.

Fontes Consultadas: Anvisa e Ministério da Saúde, instituições ligadas ao imunizante, bem como Fiocruz, AstraZeneca, o professor Aguinaldo Roberto Pinto do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o médico infectologista Keny Colares, consultor da Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP).

Adenovírus e Mpox São Vírus Distintos

De acordo com informações obtidas pelo Comprova,

Aguinaldo Roberto Pinto, docente do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da UFSC, esclareceu que o adenovírus e a mpox são vrus distintos, o que descarta a possibilidade do imunizante causar varíola dos macacos.

Ele ressaltou que, embora a AstraZeneca seja derivada de um adenovírus isolado de chimpanzés, seu genoma foi modificado em laboratório para não se replicar em seres humanos, garantindo assim a segurança do imunizante.

O professor acrescentou que as vacinas são elaboradas a partir de microrganismos inativos, atenuados, RNA mensageiro e tipos de adenovírus incapazes de se reproduzir.

Relação da mpox com macacos é equivocada. Apesar de ser popularmente conhecida como “varíola dos macacos”, a transmissão da mpox não está associada a esses animais. De acordo com o Ministério da Saúde, o nome vem da primeira identificação do vírus em macacos em um laboratório na Dinamarca, em 1958.

O Ministério da Saúde destaca que, apesar de o hospedeiro do vírus – onde se multiplica o agente causador da mpox – ser desconhecido, os principais associados são roedores, como esquilos em florestas tropicais da África, especialmente da África Ocidental. Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) também aponta os ratos como suscetíveis a esse tipo de varíola. Contudo, as “transmissões do surto atual, que atingiram mais de 75 países, foram atribuídas à contaminação de pessoa para pessoa, por meio de contato próximo”, conforme informado pelo órgão.

O médico infectologista e consultor da ESP Keny Colares observou que até o termo “monkeypox” é inadequado. “Ficou como se fosse um vírus de macacos, mas na verdade é uma doença humana”, afirmou.

“A descoberta desse vírus foi feita em pessoas que tinham contato com macacos, o que levou a acreditar que a doença era proveniente desses animais. No entanto, trata-se muito mais de um vírus que afeta humanos e que eventualmente infectou algum macaco. No momento da sua descoberta, recebeu o nome de monkeypox e agora é difícil desvincular essa denominação”, acrescentou.

A vacina não é mais utilizada no Brasil. Segundo a Anvisa, a vacina AstraZeneca, registrada em março de 2021, teve seu registro válido por três anos, até março de 2024. Com o término do registro e a ausência de solicitação de renovação por parte da empresa, a autorização para uso no país foi cancelada. Dessa forma, o imunizante foi retirado de circulação no Brasil.

A Fiocruz comunicou que mais de 190 milhões de doses da vacina foram administradas no país ao longo de três anos, sendo considerada uma estratégia eficaz pelo Ministério da Saúde para salvar vidas em um contexto de alto risco de complicações graves pela covid-19.O Ministério da Saúde, em comunicado emitido em 3 de maio de 2024, esclareceu que desde dezembro de 2022, com a diminuição das internações e óbitos relacionados à covid-19, a aquisição da vacina Astrazeneca foi interrompida. A pasta passou a priorizar a compra de vacinas de outras plataformas, “conforme a disponibilidade dos fabricantes e as recomendações da Câmara Técnica Assessora de Imunizações (CTAI)”.

Por que o Comprova investigou essa divulgação:
O Comprova acompanha publicações suspeitas nas redes sociais e aplicativos de mensagens sobre políticas públicas, saúde, mudanças climáticas e eleições, abrindo investigações para aquelas postagens que obtiveram maior alcance e engajamento. Você também pode sugerir verificações através do WhatsApp +55 11 97045-4984.

Outras análises sobre o tema:
A Reuters e o Aos Fatos confirmaram que é falso que a vacina AstraZeneca causa varíola dos macacos. O Comprova esclareceu o que é a mpox, doença que levou a OMS a declarar emergência global.

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