O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), declarou nesta sexta-feira, 30, que as grandes empresas de tecnologia que controlam as redes sociais estão buscando poder político após alcançarem influência e poder econômico através da utilização de algoritmos para direcionar produtos e discursos. Durante uma palestra na Universidade Presbiteriana Mackenzie, em São Paulo, Moraes, que está envolvido em uma disputa jurídica com o bilionário Elon Musk, proprietário do X (antigo Twitter), afirmou que “ninguém mais sabe tanto sobre nós quanto as grandes empresas de tecnologia”.
“De maneira inconsciente, fornecemos às grandes empresas de tecnologia todas as informações sobre nossas vidas. Excluindo nossa mãe, ninguém mais conhece tão bem sobre nós quanto as big techs. Elas sabem o que você compra, o que você come, os remédios que você usa, porque você consulta e compra para entrega em casa, sabem se você é a favor ou contra determinado assunto à medida que você busca mais autores ou artigos a favor ou contra determinado tema. Tudo isso fica registrado, cada consulta está registrada”, afirmou.
Segundo o ministro, as empresas começaram a direcionar mensagens específicas aos usuários com fins econômicos. Ao perceberem a eficácia desse mecanismo, as grandes empresas de tecnologia passaram a utilizar essas ferramentas para “obter poder político”.
“Inicialmente, as redes sociais, as grandes empresas de tecnologia, esses grupos, começaram a direcionar a questão econômica. Quando perceberam, em determinado momento, que isso funcionou, esses mesmos grupos econômicos gigantes se questionaram: ‘bem, se temos influência e poder econômico, por que não usar esse mesmo procedimento para obter poder político?'”, afirmou Moraes para uma plateia de juristas e estudantes de Direito.
O discurso de Moraes confirma as teses defendidas pelo ministro em julgamentos no Supremo Tribunal. Ao iniciar o julgamento de 39 recursos apresentados por plataformas digitais contra suas decisões sob alegação de “censura prévia por suspensão de perfis”, Moraes afirmou que “liberdade de expressão não deve ser confundida com impunidade para agressão”.
A tese foi reforçada aos estudantes nesta manhã. Conforme o ministro, “liberdade de expressão não é liberdade para agressão. Liberdade de expressão não é permissão para práticas e discursos de ódio, discursos nazistas fascistas, misóginos”.
“‘Nós (big techs) temos o cadastro das pessoas, vamos explorar o que as pessoas amam ou temem’. E existem diversos estudos que mostram que a única mudança desse verdadeiro lavagem cerebral que começou do ponto de vista econômico para a questão política, essa evolução, foi feita em relação aos amores e temores do eleitor. Começaram a radicalizar a mensagem porque perceberam que mensagens nos extremos tinham milhares de vezes mais curtidas do que debates sérios ou racionais. Isso é facilmente visto em qualquer rede social”, explicou.
E ainda acrescentou: “Uma vez que as grandes empresas de tecnologia conhecem suas preferências, seus pensamentos… primeiro, cativam as pessoas para, em determinado momento, com as pessoas cativadas, começar a disseminar desinformação. O que recebe curtidas? O que realmente todos gostam de ver é uma briga, um xingamento, raiva, discursos…”
O ministro Alexandre de Moraes fez uma palestra para estudantes na qual abordou a apropriação de estratégias da extrema direita nas redes sociais. Moraes, alvo de extremistas e investigado por disseminação de discursos de ódio e desinformação, reconheceu que grupos populistas de extrema direita no Brasil e no mundo têm usado eficientemente mecanismos de direcionamento de narrativas e engajamento nas redes sociais. Segundo ele, esse populismo digital aprendeu a utilizar as plataformas para criar bolhas, explorar sentimentos das pessoas, instigar ódio e divisão, não apenas no Brasil, mas como um fenômeno global.
O ministro alertou para o falso argumento da liberdade de expressão usado para justificar discursos racistas, nazistas e homofóbicos. Ele ressaltou a gravidade desse comportamento, em que as pessoas se sentem no direito de propagar ódio e disseminar preconceitos sob o pretexto da liberdade de expressão. Moraes enfatizou que tal postura não se restringe apenas a questões locais, mas representa um desafio global.
Em um tom descontraído, Alexandre de Moraes fez uma analogia entre os ataques que tem enfrentado e sua paixão pelo futebol. Corinthiano declarado, brincou sobre as críticas que o rotulam erroneamente como comunista, destacando que, para ele, ser chamado de palmeirense seria mais ofensivo. Com humor, o ministro ironizou a confusão entre sua identidade política e a rivalidade clubística, demonstrando leveza diante das críticas recebidas. A descontração serviu para amenizar o peso dos ataques e evidenciar a importância de lidar com situações adversas com bom humor.
A abordagem de Moraes ressalta a necessidade de combater a disseminação de discursos de ódio e desinformação nas redes sociais, assim como a importância de discernir entre liberdade de expressão e práticas prejudiciais à sociedade. A reflexão sobre a manipulação de narrativas digitais por grupos extremistas é fundamental para promover um ambiente online mais saudável e contribuir para a construção de uma esfera pública democrática e respeitosa. A palestra do ministro destaca a complexidade dos desafios enfrentados no ambiente digital e a urgência de promover um debate aberto e esclarecedor sobre essas questões.
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