O livro intitulado “O país dos privilégios“, escrito por Bruno Carazza, apresenta uma análise sistemática e informativa baseada em uma pesquisa robusta. O autor evidencia como as elites do país controlam e se apropriam progressivamente do estado e da economia. Nas palavras de Carazza, o estado brasileiro funciona como uma máquina de distribuição de privilégios, tornando esta obra uma leitura indispensável para o pensamento social brasileiro.
Nas obras dos autores clássicos como Adam Smith e Marx, a análise das sociedades sempre esteve vinculada à relação entre duas variáveis distintas, como o mercado e o desenvolvimento em Smith, e a luta entre capital e trabalho em Marx.
No contexto do pensamento social brasileiro, a interpretação do país historicamente se deu por meio da dicotomia de variáveis opostas que influenciam de forma contínua as dinâmicas sociais. Autores como Oliveira Viana, Florestan Fernandes, Sérigo Buarque de Holanda e Gilberto Freyre, e os mais contemporâneos como Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso e Simon Schwartzman, exploram essa dicotomia em suas obras, oferecendo diferentes perspectivas sobre a sociedade brasileira ao longo do tempo.
Max Weber classificou as sociedades em três tipos distintos: racional-legal, baseada em um estado burocrático eficaz; sociedades com lideranças carismáticas em constante mudança; e o estado patrimonialista, onde a política se apropria do estado em benefício próprio na gestão econômica.
A obra de Raymundo Faoro, “Os donos do poder“, aplica o conceito de patrimonialismo ao Brasil, destacando a influência institucional e cultural da herança portuguesa no país.
Edson de Oliveira Nunes, em seu livro “A gramática política do Brasil“, propõe um paradigma inovador ao conceituar o Brasil como resultado de mais de duas variáveis. Ele estabelece quatro relações fundamentais – clientelismo, corporativismo, insulamento burocrático e universalismo de procedimentos – como elementos dinâmicos que moldam a sociedade brasileira ao longo da história. Essa abordagem complexa reforça a singularidade política e social do Brasil.
Parece que no Brasil, o estado não apenas é apropriado pelas elites, como observado por Weber, mas foi originalmente concebido com esse propósito. Esta hipótese desafia a compreensão tradicional da estrutura estatal brasileira.
O livro de Bruno Carazza contribui significativamente para o debate no campo do pensamento social brasileiro.
Ricardo Guedes é formado em Física pela UFRJ e possui Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago.
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