São Paulo — A Polícia Civil e o Ministério Público paulista (MPSP) apontam o empresário Maurício Camisotti como o potencial “beneficiário final” de um esquema de estelionato contra aposentados, por meio de descontos indevidos na folha de pagamento das aposentadorias do Instituto Nacional do Seguro Social, conhecido como INSS.
Transferências milionárias feitas para uma corretora de seguros do empresário e trocas de mensagens entre investigados mostram, segundo os investigadores, que três entidades que faturam mais de R$ 50 milhões mensais com os descontos são operadas pelo “grupo empresarial” de Camisotti.
Conforme divulgado pelo Metrópoles, parentes de Camisotti, executivos e funcionários de empresas ligadas ao Grupo Total Health (THG), que pertence ao empresário, foram registrados como diretores estatutários de entidades que firmam acordos com o INSS para poderem efetuar descontos sobre aposentadorias em troca de serviços de seguros e planos de saúde a seus filiados. São as próprias empresas as prestadoras de serviços ofertados pelas associações.
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Trocas de mensagens recentemente reveladas mostram conversas sobre pagamentos entre a coordenadora da Benfix e o gerente da Ambec, apontando para possíveis irregularidades. As mensagens em discussão foram descobertas durante uma investigação em andamento, trazendo à tona detalhes das transações financeiras entre as duas entidades envolvidas.
Além disso, a caixa de e-mail do notebook do gerente da Ambec foi descoberta recheada de referências a outras associações. Para a Polícia Civil, essa conexão indica que as entidades estão interligadas e possivelmente controladas por um mesmo grupo empresarial, que se beneficia das atividades fraudulentas investigadas.
Um dos principais nomes envolvidos nas investigações é Maurício Camisotti, dono da Total Health. Ele teria recebido cerca de R$ 10,8 milhões de associações ligadas à farra do INSS, tanto por meio de suas empresas quanto em transações pessoais. Camisotti está sendo investigado como o possível “beneficiário final” das fraudes cometidas contra aposentados e pensionistas.
Outro ponto levantado nas investigações é o envolvimento de Ademir Bacic, sobrinho de Camisotti e filho de um ex-presidente da Ambec. Ademir esteve ligado a assinatura de termos entre a entidade em questão e o INSS em 2021, levantando suspeitas sobre sua participação nas atividades fraudulentas em conjunto com outros membros da organização.
Durante operações recentes, a Polícia Civil de São Paulo apreendeu celulares, notebooks e centenas de documentos em diversas entidades relacionadas à farra do INSS, incluindo o apartamento de Maurício Camisotti. Essas apreensões e descobertas reforçam a importância das investigações em andamento e a necessidade de apurar todas as informações levantadas até o momento.
As evidências encontradas até o momento apontam para uma rede complexa de relações e transações financeiras suspeitas entre diferentes entidades e indivíduos envolvidos no esquema de fraudes contra o INSS. A investigação segue em andamento para identificar todos os responsáveis e levar os envolvidos à Justiça, garantindo a punição adequada para crimes cometidos contra a previdência social e os beneficiários do sistema.O presidente da Ambec está expressando sua insatisfação com a falta de pagamentos autorizados pela empresa de Maurício Camisotti. A reclamação evidencia um controle sobre as entidades envolvidas.
As trocas de mensagens revelam conversas sobre pagamentos entre a coordenadora da Benfix e o gerente da Ambec, ressaltando a ligação entre as partes.
O conteúdo do e-mail encontrado no notebook do gerente da Ambec mostra referências a outras associações, o que, segundo a Polícia Civil, demonstra uma interligação entre elas, controladas por um mesmo grupo empresarial beneficiário da fraude.
Maurício Camisotti, proprietário da Total Health, é apontado como o destinatário de R$ 10,8 milhões provenientes das associações envolvidas no esquema do INSS, parte desse valor direcionado às suas empresas e a ele pessoalmente. Ele está sendo investigado como o “beneficiário final” das fraudes contra aposentados.
Ademir Bacic, sobrinho de Camisotti e filho do ex-presidente da Ambec que assinou um termo da entidade com o INSS em 2021, também está envolvido na trama.
Bacic não apenas tem participação na situação, mas também é identificado como autor de e-mails relacionados à Ambec, instituição que foi presidida por seu pai, um aposentado que selou o contrato da entidade com o INSS.
Esses indícios apontam para uma rede complexa de relações e interesses que envolvem as associações investigadas, evidenciando a extensão do esquema fraudulento e as conexões entre os envolvidos. A investigação dessas relações e transações fraudulentas é fundamental para desmantelar esse tipo de prática que prejudica a sociedade e os sistemas de seguridade social.As entidades sujeitas a investigação vinculadas ao grupo são a Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos (Ambec), o Centro de Estudos dos Benefícios dos Aposentados e Pensionistas (Cebap) e a União dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (Unsbras ou Unabrasil). Em maio deste ano, essas entidades arrecadaram R$ 56 milhões por meio de descontos nas aposentadorias.
“Associação para fraudes”
Na história da Ambec, passaram uma funcionária, o pai de um executivo e um sócio de empresas do grupo THG, além de uma empregada da família de Camisotti. Os presidentes das outras duas associações foram o pai e o tio da esposa de outro executivo ligado ao THG. Duas entidades adicionais, ligadas ao mesmo grupo, foram identificadas pelos investigadores, embora não tenham acordos com o INSS.
Dentre as transações financeiras descobertas pelo Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) que ligam Camisotti a essas associações, estão repasses de R$ 10,8 milhões feitos por elas para a Benfix, uma corretora de seguros em seu nome e de sua esposa. Conforme o órgão, R$ 500 mil desse valor teriam sido direcionados a Camisotti em suas contas pessoais.
No total, o Coaf detectou movimentações de R$ 150 milhões nas contas do empresário ao longo de quatro anos, consideradas “incompatíveis com seu patrimônio, atividade econômica ou ocupação profissional”, conforme indicado pelo órgão federal.
“Resumidamente, há fortes indícios de uma associação criminosa dedicada a práticas ilegais que têm prejudicado os aposentados e pensionistas. A investigação visa esclarecer o envolvimento dessas entidades e indivíduos com condutas ilícitas, aprofundando a análise das transações financeiras suspeitas e os possíveis impactos para a sociedade.”Ao solicitarem buscas e apreensões na residência do empresário em julho, a Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo apontaram a existência de estelionatos, resultantes de descontos indevidos em benefícios do Instituto Nacional da Seguridade Social. A relação da Benfix com as entidades ficou mais evidente após a apreensão dos dispositivos eletrônicos do gerente administrativo da Ambec, Eubulo Leite Fernandes. Na análise desses materiais, a polícia encontrou pastas de e-mail designadas para cada associação investigada, indicando que tais entidades operavam em conjunto.
No conteúdo extraído do computador de Eubulo, foram identificadas pastas relacionadas à Ambec, Cebap, Unsbras, e outras duas associações não vinculadas ao INSS, porém ligadas ao grupo de Camisotti. Os e-mails trocados com destinatários da Benfix sobre faturamento, atas e pagamentos de todas as associações estavam presentes na caixa de entrada de Eubulo, evidenciando a estreita relação.
Além disso, mensagens de texto entre Eubulo e o gerente da Benfix, Ramon Rodrigues Novais, juntamente com a supervisora da empresa, Sylvia Regina Novellino, foram identificadas. Num desses diálogos, datado de 11 de julho de 2024, Eubulo compartilha uma reclamação da presidente da Ambec, Marilisia Moran, sobre a falta de pagamentos. A resposta de Ramon, da Benfix, sugere que os pagamentos foram feitos apenas após pressão.
As mensagens destacam o que foi revelado em depoimentos anteriores, onde um ex-segurança de Maurício Camisotti mencionou ter indicado aposentados para preencherem os quadros da Ambec a pedido do empresário. Estes aposentados teriam recebido quantias insignificantes para emprestarem seus nomes ao grupo.
A Polícia Civil revelou que na lista de contatos do aplicativo Microsoft Teams de Eubulo, a atuação direta da Benfix na gestão administrativa e financeira das associações era evidente. Desta forma, há forte suspeita de que Sylvia Regina Novellino e Ramon Rodrigues Novais estejam incumbidos pela Benfix de gerir diretamente as associações.
Maurício Camisotti é sócio da Benfix juntamente com sua esposa, sendo proprietário do Grupo Total Health (THG), especializado em seguros e planos de saúde e odontológicos. Embora as entidades estejam registradas em nome de funcionários modestos e familiares dos executivos do grupo, até mesmo uma auxiliar de dentista e uma empregada doméstica de Camisotti constam nos quadros das associações.
Em resposta às movimentações identificadas pelo Coaf, Maurício Camisotti afirmou por meio de nota que a movimentação é compatível, declarada e não relacionada aos fatos investigados. Ele esclareceu também ser acionista da Benfix, empresa especializada em serviços de apoio administrativo em geral.O empresário Rodrigo Camisotti possui em seu portfólio de clientes as associações Ambec, Cebap e Unsbras. Ele esclarece que não exerce funções executivas nas entidades, atuando apenas como prestador de serviços e seguindo rigorosamente a legislação vigente.
Camisotti já forneceu explicações às autoridades policiais e nega veementemente que a Benfix tenha recebido o montante de R$ 10,8 milhões das três entidades. Segundo ele, as transações financeiras foram interpretadas equivocadamente como pagamentos, mas a Benfix não recebeu tal quantia. Ele reitera a regularidade das operações e a conformidade com os objetivos estabelecidos.
As associações investigadas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público de São Paulo também refutaram qualquer irregularidade nos descontos efetuados nas aposentadorias e nas relações comerciais com a Benfix.
Em comunicado oficial, as entidades enfatizam que todas as situações foram esclarecidas devidamente, apresentando evidências claras do consentimento dos filiados, o que descarta a possibilidade de crime de estelionato.
Apesar de manterem contratos de prestação de serviços com a Benfix, as associações negam os repasses mencionados pelo Coaf às autoridades. De acordo com elas, os registros de ocorrência feitos por aposentados podem ser elucidados com as devidas comprovações de consentimento, considerando que o volume de casos é baixo em relação ao total de beneficiários.
Ambec e Cebap comprovaram o consentimento dos filiados em relação às transações, apresentando as evidências necessárias às autoridades e afastando qualquer associação dos casos investigados com práticas de estelionato, como já havia sido mencionado anteriormente.
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