Em um passado relativamente recente, muitos brasileiros rejeitavam a combinação das cores verde e amarelo porque ela lembrava a bandeira nacional – e essa, por sua vez, remetia ao país do “ame-o ou deixe-o” inventado pela ditadura militar de 1964. Se para os mais ortodoxos não pegava bem usá-las em separado, juntas então jamais! Quem ousasse fazê-lo era chamado de “bandeira nacional ambulante”.
A ditadura acabou em março de 1985, a democracia ganhou viço entre nós e o mundo se globalizou em definitivo. Para os europeus, o Brasil não só mudou como tem agora um presidente perfeito ou quase isso: Lula da Silva. Não, não se assustem, e garanto que não exagero: Lula é o xodó de 10 entre 10 europeus. Difícil de acreditar? Darei um desconto: Lula é o xodó de 9 entre 10 europeus.
Aqui na Espanha, sempre que os jornais publicam alguma notícia a respeito do Brasil, se referem a Lula como “el obrero “ (trabalhador ). O verde e o amarelo da bandeira brasileira pegaram carona com Lula, invadiram o chamado Velho Continente e se tornaram as cores quase oficiais do verão ainda em curso. Isso é mais visível na Itália, Portugal, França, Espanha e até na fria Inglaterra.
Antigamente, você identificava um brasileiro em qualquer parte da Europa quando nossa seleção de futebol jogava e ganhava. Ele desfilava orgulhoso metido numa camiseta da seleção como se vestisse um Zegna ou Armani. Tudo mudou. As cores da nossa bandeira decoram restaurantes chics, se exibem na pele de celebridades, tremulam nas praias do jet–set e enfeitam até a bandeira do Barcelona.
Sim, é isso mesmo: a bandeira do amado Barça ganhou uma faixa verde amarela na parte debaixo . Foi para homenagear os seis brasileiros que jogam, este ano, num dos maiores e mais ricos times da Europa. A ideia foi sugerida por um jornal da cidade especializado em esportes – e logo adotada. Barcelona é a cidade que mais se rendeu ao verde e ao amarelo.
Em maio último, ela teve seu chiquérrimo Paseo de Gracia tomado de assalto pelo carnaval do baiano Carlinhos Brown. Considerados os espanhóis mais sóbrios e distantes, acostumados a conviver com a obra e a memória de gente como Gaudi, Salvador Dali, Picasso e Miró, os catalães perderam a pose e caíram no samba vestidos com grandes babados verde e amarelo.
A televisão daqui, que tem um cardápio regional, dedicou um programa de duas horas aos costumes brasileiros. E ainda destacou o modo de viver dos brasileiros que moram na Catalunha.
Receitas de comidas brasileiras como moquecas, vatapá, caruru e as famosas caipirinhas deram o toque da hora do jantar dos catalães. Agora, fico imaginando premiados cozinheiros espanhóis, gente do tipo Ferran Adrià, Arzak e Arguiñano vendo toda aquela mistura num só prato.
Mas uma moça entrevistada pela tv fez questão de dizer que pratos brasileiros como esses são muito “pesados”. É “para trabalhador mesmo, porque depois de comer tem dar uma dormidinha” – e tudo isso dublado em catalão !!!
Nas emissoras nacionais de televisão, é comum se ver em programas de auditório uma ou mais pessoas vestindo camisetas verde e amarela. Sandálias havaianas? São vendidas como pãozinho recém-saído do forno. Estão em todas as lojas, das mais refinadas aos mercados populares de bairros. Se não tiverem a bandeirinha brasileira na tira, encalham.
O Brasil é a última moda no mais velho dos continentes!
(Publicado aqui em 5 de setembro de 2004)
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