Se no último ciclo eleitoral pela Europa o tema central discutido foi a economia pós pandemia, o próximo ciclo já tem seu novo tema estabelecido, a imigração. Cada vez mais os impactos positivos e negativos da imigração têm sido colocados na balança, não apenas por governos de diferentes vertentes ideológicas, mas também pela própria população. Países como França, Bélgica, Suécia abriram de maneira desregulada suas fronteiras e hoje sofrem com grande descaracterização de suas principais cidades e com a formação de guetos de certas nacionalidades em centros urbanos. Ao mesmo tempo, um continente com uma taxa de natalidade em constante declínio, sabe que para que o aparato do sistema social funcione, é necessário ter gente trabalhando em todos os setores. A grande pergunta é como prosseguir.
Há 40 anos políticos europeus sociais-democratas (de esquerda) e conservadores-cristãos (de direita) possuíam muitas divergências do aspecto econômico, social e em relação às suas políticas externas, mas convergiam em um quesito: a imigração de matrizes civilizatórias contrastantes à europeia poderia acarretar fissuras na sociedade. Era muito comum nos anos da Guerra Fria, que alemães recebessem imigrantes iugoslavos e gregos, que ingleses recebessem imigrantes italianos e poloneses, entre tantos outros fluxos internos de imigrantes Europa afora. Por serem, na maioria dos casos, imigrantes provenientes de países com valores culturais parecidos, a integração e a assimilação dos mesmos nas respectivas sociedades que os acolheram, aconteceram de forma natural e essa relação foi por muitas décadas benéfica, ajudando o país anfitrião a crescer, enquanto os imigrantes igualmente desfrutavam de um cenário econômico mais favorável.
Com o passar dos anos, mais precisamente nas primeiras duas décadas desse século, o afluxo de imigrantes nos países europeus não é mais proveniente de outras nações europeias, mas de nações do Oriente Médio e do Norte da África, pessoas pertencentes à civilização islâmica, na grande maioria dos casos. A visão do mundo de muitos desses imigrantes contrasta em inúmeros aspectos com a matriz cultural europeia. Seja em como tratar as mulheres, as minorias, seja em como lidar com as liberdades de expressão, religião e imprensa, ou até mesmo compreender o funcionamento de uma democracia liberal, tudo se tornou um enorme desafio de adaptação por parte daqueles originários de ditaduras islâmicas, onde a sharia é lei ou a democracia nunca existiu de verdade.
Em um cenário como esse, é evidente que visões contrastantes de mundo entrariam em rota de colisão. Na Suécia, por exemplo, receberam mais de 1.2 milhão de imigrantes muçulmanos nos 20 últimos anos, e hoje há bairros inteiros onde a língua sueca não é falada, as leis do país não se aplicam integralmente e onde até pouco tempo nem mesmo a polícia podia ter suas funções executadas, as famosas no-go zones. Com isso, os índices de crimes violentos e de ordem sexual em cidades como Malmö e Estocolmo alcançaram patamares nunca antes vistos e uma sensação generalizada de insegurança prevaleceu. Após uma mudança drástica na política migratória e de segurança pública do país, com a intervenção do próprio exército para auxiliar as polícias locais, a situação parece melhorar aos poucos, mas ainda muito longe do ideal. O exemplo do fracasso sueco serviu de alerta aos vizinhos europeus que temem ver o mesmo cenário se repetir em seus territórios.
A cobrança por uma política migratória mais consequente se intensificou na última eleição europeia, onde partidos ultranacionalistas, alguns de extrema-direita, ampliaram bastante seus assentos em Bruxelas. Mesmo dentro dos partidos convencionais há um consenso que a política migratória atual falhou e precisa ser atualizada. A definição de ‘refugiado’ dentro das cortes europeias provavelmente passará por uma reformulação no próximo quinquênio, já que centenas de milhares de imigrantes econômicos ilegais fazem o uso indevido do pedido de asilo para permanecer de forma ilícita em solo europeu.
Enquanto isso, as pessoas que realmente precisariam das proteções oferecidas aos refugiados, em sua maioria mulheres e crianças, nem mesmo chegam parto de pisar na Europa. Esse desvirtuamento de um conceito tão fundamental para a Lei Humanitária Internacional por parte de pessoas mal-intencionadas coloca em risco o acolhimento de quem realmente precisa da ajuda e proteção dos países europeus e nesse contexto uma revisão completa de tais definições e a análise mais rigorosa e mais rápida dos casos individuais é prioridade.
Ontem o novo governo de direita da Holanda, liderado pelo Primeiro-Ministro Dick Schoof, anunciou que o país fechará suas fronteiras terrestres a partir de dezembro por 6 meses. Como país fundador da União Europeia e signatário do tratado de Schengen, a Holanda tem suas fronteiras abertas para outros países signatários, tais como os vizinhos por terra Bélgica e Alemanha. De acordo com o governo direitista, essa medida especial foi tomada para frear a imigração ilegal ao país, já que os números recentes ultrapassaram as metas estipuladas, e a população cobrou nas urnas uma mudança nesse sentido.
Alas mais liberais e progressistas do bloco europeu criticam a medida, enquanto países que sofrem com imigração ilegal massiva, como França e Alemanha, estudam maneiras de até mesmo copiar os holandeses em um futuro próximo, para igualmente responderem aos anseios de seus próprios cidadãos. Seja qual for o resultado, todos os olhos dos demais 26 estados membros da União Europeia e de mais 4 signatários do tratado de Schengen, estarão voltados à Amsterdã pelos próximos 180 dias para quem sabe se inspirarem em como dar os próximos passos nesse tópico tão complexo.
Comentários Facebook