A conclusão do inquérito da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de estado em 2022 é um dos documentos mais relevantes da história recente do Brasil. O relatório detalha parte dos envolvidos no esforço para romper com o Estado Democrático de Direito, expondo os caminhos seguidos pelos que se autoproclamavam defensores da pátria e da nação. Um discurso enganador que conquistou quase metade da população naquele outubro.
Antes do indiciamento de Jair Bolsonaro, Braga Netto e outros próximos ao ex-presidente, a intenção golpista se resumia a rumores sobre como a trupe bolsonarista planejava se manter no poder após a derrota nas urnas. Agora, o quebra-cabeças parece mais completo, evidenciando até mesmo planos de assassinato de Luiz Inácio Lula da Silva, Geraldo Alckmin e Alexandre de Moraes.
Nada disso é surpreendente. A retórica de fraude nas urnas eletrônicas, as tentativas de desacreditar o sistema jurídico e o viés pró-militarismo que enalteciam a Ditadura Militar já indicavam a fragilidade institucional desse grupo. O conceito de pós-verdade se encaixa perfeitamente na realidade brasileira. O constrangimento que os defensores dessa ruptura deveriam sentir, mesmo que subconscientemente, deveria ser enorme, porém, não parece ser o caso.
Bolsonaro e seus apoiadores provavelmente acusarão a PF de estar a serviço do governo Lula. Se a Procuradoria-Geral da República (PGR) transformar os indiciamentos em denúncia, apelarão para o vitimismo que criticam. Caso o STF torne os indiciados réus, veremos esforços para transformá-los em vítimas do sistema que tentaram sabotar de forma golpista, não democrática.
Para quem elogiava abertamente o regime militar e considerava o golpe de 1964 uma revolução, a subversão do sistema deveria causar repulsa. No entanto, a trama desvendada pela PF revela o contrário. Foi a extrema-direita que buscou se apossar do Brasil através da subversão — das instituições, da democracia e do povo. A questão é se os cidadãos compreenderão o real risco que enfrentamos entre o segundo turno das eleições de 2022 e o fatídico 8 de janeiro de 2023, quando os vândalos foram instrumentalizados pela estratégia golpista (felizmente sem sucesso).
Não foi apenas “batom na cueca”, como diz a expressão popular para traições. Documentos e evidências graves mostram que o golpe planejado foi real. O relatório da PF reforça a importância de 2022 para o futuro do Brasil.
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