A prisão do general Braga Netto no sábado criou um fato inédito no país. Nunca antes um militar de alto escalão do Exército havia sido detido por decisão judicial em um processo conduzido por civis.
No auge do envolvimento das Forças Armadas na Justiça devido à investigação sobre a trama golpista, membros da cúpula do Exército tentam separar Braga Netto da instituição.
Quatro oficiais-generais ouvidos pela Folha afirmaram que a prisão sem precedentes causa constrangimento para o Exército. No entanto, justificaram que Braga Netto teria cometido os atos suspeitos como político, longe dos quartéis e já havia rompido relações com os demais oficiais.
A relação de Braga Netto com a cúpula militar deteriorou-se no fim de 2022, durante o governo Bolsonaro. Na época, os militares suspeitavam que ele conspirava nos bastidores para minar o comando do general Freire Gomes, então chefe do Exército, devido à resistência deste aos planos golpistas.
As suspeitas se confirmaram quando a Polícia Federal revelou mensagens trocadas entre Braga Netto e o capitão reformado Ailton Barros. Nas mensagens, o general sugeriu “oferecer a cabeça” de Freire Gomes aos leões e o chamou de “cagão”.
Braga Netto também encorajou Barros a espalhar relatos de uma reunião entre o general Tomás Paiva e o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, insinuando que Paiva agia como se fosse do PT desde jovem. Paiva é o atual comandante do Exército.
Esses acontecimentos afastaram Braga Netto da atual cúpula militar, que afirmou já esperar a prisão do general mais cedo ou mais tarde. Há receio de que militares próximos, como os generais Augusto Heleno e Paulo Sérgio Nogueira, enfrentem o mesmo destino.
Segundo a cúpula militar, a trama golpista foi uma ação de militares da reserva, e não um plano de golpe militar institucional. A Polícia Federal indiciou 25 militares, incluindo sete oficiais-generais, sendo um deles (Estevam Theophilo) membro do Alto Comando do Exército no fim do governo Bolsonaro. Do total, 12 eram militares da ativa.
Embora a prisão já fosse aguardada, a cúpula do Exército foi pega de surpresa por ter ocorrido em um sábado. O comandante Tomás Paiva foi informado pela PF na noite anterior sobre a operação, sem conhecer os alvos, como de praxe. A informação foi repassada ao ministro da Defesa, José Mucio Monteiro.

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