“Tirano africano”: ex-cônsul da França denuncia racismo na Bahia

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O ex-cônsul honorário da França na Bahia, o franco-senegalês Mamadou Gaye (foto em destaque), travou uma batalha judicial em busca de reparação por injúria racial após ser alvo de ataques discriminatórios enquanto exercia sua função diplomática. As ofensas ocorreram entre 2023 e 2024, mas até o início deste ano, Gaye ainda não obteve a compensação esperada nem a retratação pública do agressor.

Gaye, que atuou como cônsul honorário da França entre 2019 e 2024, relata que as agressões começaram em maio de 2023, quando recusou um pedido de um cidadão francês residente na Bahia.

O homem, Fabien Liquori, havia solicitado que Gaye intercedesse em questões burocráticas na França, um procedimento que não estava ao alcance do consulado. Insatisfeito com a negativa, Liquori iniciou uma série de ataques via e-mail, incluindo ofensas que questionavam a competência de Gaye para exercer o cargo.

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Em outubro de 2023, o agressor chamou Gaye de “tirano africano” e fez um comentário depreciativo, dizendo para ele “voltar ao seu buraco parisiense”. O ex-cônsul, então, decidiu tomar medidas legais, processando Liquori por injúria racial.

Valor “irrisório”
Em janeiro de 2024, o Tribunal de Justiça da Bahia determinou o pagamento de R$ 3 mil por danos morais a Gaye, mas não se manifestou sobre o pedido de retratação pública. O valor, considerado “irrisório”, levou Gaye a recorrer da decisão. Um novo julgamento, em dezembro de 2024, manteve a quantia de R$ 3 mil, mais uma vez sem exigir que o agressor se retratasse publicamente.

“Foi uma violência. A Justiça disse que o que aconteceu comigo não tem importância, que o que eu senti não tem gravidade. Essa pessoa está protegida, e eu estou aqui tentando buscar justiça”, desabafa Gaye. Ele acredita que o valor da indenização não reflete a seriedade do ataque que sofreu e, por isso, está determinado a buscar um novo recurso, incluindo um embargo de declaração e a atuação do Ministério Público de Combate ao Racismo.

Manifesto
A situação tomou proporções públicas quando Gaye decidiu compartilhar sua luta nas redes sociais. Em sua fala, ele destacou que não se trata de uma disputa pessoal entre dois franceses, mas de mais um episódio de racismo em uma sociedade marcada pela desigualdade racial. “O racismo não tem explicação. Ele é absurdo”, afirmou Gaye, em um manifesto de resistência.

O caso também gerou manifestações de apoio. A Aliança Francesa, instituição com a qual Gaye tem laços, emitiu uma nota de solidariedade, condenando veementemente o episódio de discriminação e ressaltando a responsabilidade do poder público e da Justiça na promoção de atos de reparação.

O Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da UFBA também se posicionou, destacando a importância de continuar o debate sobre o racismo e a necessidade de punições mais rigorosas para quem perpetua essas práticas.

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