Em meio aos devastadores incêndios que assolaram a região de Pacific Palisades, nos Estados Unidos, uma casa singular e imponente de design minimalista permaneceu inabalada, contrastando com a paisagem de destruição ao redor. Construída há 15 anos, essa residência desafia padrões ao ter toda sua estrutura em madeira, uma tradição centenária no país que surpreende estrangeiros mais acostumados a construções de blocos, tijolos ou pedras.
O lar que resistiu é, na verdade, um laboratório de sustentabilidade concebido pelo arquiteto americano Michael Kovac. Comprometido com tecnologias verdes, ele investiu em estratégias anti-incêndio, sabendo viver numa região vulnerável a esses desastres naturais.
Thomas Schneider, arquiteto brasileiro e sócio de Kovac, explica que a madeira não é o vilão, desde que seja protegida por materiais adequados. Ele destaca a importância de revestimentos como placas de fibrocimento, janelas e telhados especiais, e sistemas como o Phos-Chek, um retardante de fogo que pode ser acionado remotamente.
Embora a casa de Kovac represente uma exceção, as normas de construção em áreas selvagens são rígidas, exigindo revestimentos especiais como o stucco, eficaz contra incêndios. No entanto, os recentes incêndios em Los Angeles desafiaram até mesmo as normas mais severas, propagando-se além das áreas habituais e destruindo residências em regiões antes consideradas seguras.
No contexto dos EUA, onde quase 90% das casas têm estrutura de madeira, a escolha por esse material é justificada por custo, tradição e até mesmo pela necessidade de adaptabilidade sísmica. Se por um lado o concreto e a alvenaria são mais resistentes ao fogo, a madeira oferece flexibilidade e leveza, sendo mais adequada em regiões de atividade sísmica.
Kyle Tourjé, especialista em engenharia estrutural, ressalta que, embora a madeira tenha custos inferiores, é essencial impor restrições nos revestimentos e nas aberturas de ventilação para reduzir riscos de incêndios. Ele alerta para a vulnerabilidade das casas de madeira às brasas transportadas pelo vento, que podem rapidamente disseminar o fogo.
Essa preferência pela madeira nos EUA remonta à era da industrialização da construção no século XIX. No entanto, garantir a segurança estrutural das construções em áreas propensas a incêndios e terremotos é um desafio constante, exigindo inovações e regulamentações adequadas.
Enquanto os esforços de reconstrução em Pacific Palisades e Altadena são desafiadores, a reflexão sobre a convivência entre urbanização e a natureza persiste. O arquiteto Thomas Schneider já recebeu diversas consultas para reconstruir na região, enquanto Michael Kovac enfrenta a incerteza de retorno ao seu lar.
Em um cenário pós-incêndio, a paisagem desolada de Pacific Palisades evoca sentimentos de desolação e esperança. O desafio de reconstruir é também a oportunidade de repensar a relação entre o homem e o ambiente, buscando soluções mais sustentáveis e resilientes.
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