Opinião: Coronel poderá dar lugar a Rui na chapa de 2026 como contraofensiva de Lula ao bolsonarismo

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Dificilmente o PT e os caciques baianos da esquerda vão desistir de ter os ex-governadores Jaques Wagner e Rui Costa como candidatos ao Senado, enquanto Jerônimo Rodrigues deve ser candidato à reeleição ao Palácio de Ondina. Há um quê de egocentrismo, mas a principal razão é uma recomendação expressa de Luiz Inácio Lula da Silva para que o Senado, a partir de 2027, não tenha maioria de representantes da direita ou da extrema-direita. É uma contraofensiva ao que o ex-presidente Jair Bolsonaro deixa claro desde o fim de 2022: é preciso eleger o maior número de senadores possível.

Nesse processo, a lealdade de Angelo Coronel (PSD), colocada à prova em diversas oportunidades, vai pesar contra o senador, candidato natural à reeleição. Apesar do flerte e do apoio ao governo Lula, Coronel apresenta limitações na defesa do “projeto nacional” pretendido pelo petismo. Fiel apenas até certo ponto, o fato de o socialdemocrata ter votado pautas alinhadas com a oposição e, em alguns momentos, ter dialogado abertamente com o bolsonarismo colocam uma espada de Dâmocles sobre ele.

O atual senador não apenas tem noção do risco de ficar fora do processo de reeleição, como já iniciou a sua própria ofensiva, num esforço para tentar salvar a própria pele. A mobilização feita em torno da presidência da Assembleia Legislativa da Bahia e a salvaguarda para que o PSD mantenha o comando dele são os exemplos públicos de que o incômodo é sentido e que Coronel não pretende entregar os pontos sem brigar por espaço.

As sucessivas declarações de figuras como Éden Valadares, presidente do PT da Bahia, do governador Jerônimo Rodrigues e do próprio Jaques Wagner, candidato à reeleição, tentam regionalizar o debate sobre a “chapa dos sonhos”. Eles reiteram, precocemente, que ter três governadores com os nomes das urnas torna o grupo imbatível e dificulta a vida da oposição. Ao mesmo tempo em que valorizam a “prata da casa”, eles escondem qualquer holofote para a estratégia que deve ser repetida em diversos estados brasileiros para 2026.

Foi Jerônimo quem deu a senha, ao reagir a declarações de Coronel. O governador bradou que o principal projeto de 2026 é reeleger Lula, ainda que o próprio Lula não tenha se colocado como candidato. A chegada do marqueteiro Sidônio Palmeira na Secretaria de Comunicação da Presidência evidencia que os planos para o próximo pleito começaram a ser tratados. Porém, para além de ganhar a disputa pelo Planalto, o presidente precisaria controlar o Senado com os mais leais integrantes das “cortes” petistas – ou de esquerda, a depender da configuração das alianças nos estados. Daí se percebe que Wagner e Rui, que eventualmente podem até ser ministros, são essenciais para esse projeto, enquanto Coronel seria descartável ou poderia se contentar com a suplência de um deles e herdar a cadeira com a licença.

Em 2022, as eleições para o Senado já mostravam que Bolsonaro e Lula já tentavam controlar ou ao menos influenciar os rumos daquela Casa. Só que apenas 1/3 foi renovada. No próximo ano, serão os outros 2/3, então quanto mais cedo se investe na consolidação de nomes que funcionem cérberos para evitar processos de impeachment, seja para um lado ou para o outro. E o bolsonarismo ainda tem o bônus de tentar cavar afastamento de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), um trunfo para a extrema-direita no processo de enfraquecimento do Estado Democrático de Direito.

Coronel vai lutar intensamente para não ser afastado do processo político-eleitoral de 2026. É um direito dele. No entanto, dado aos diversos sinais dados, provavelmente não conseguirá manter a cadeira de senador sob sua tutela. Mesmo que isso coloque em risco o projeto baiano de poder. Afinal, o que está em jogo não é apenas a Bahia. Mas sim a perspectiva que o PT tem para o Brasil.

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