Lugar que cala ou branquitude que dita?

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Lugar que cala ou branquitude que dita?

A questão da branquitude, mesmo invisível para quem a ocupa, é estruturalmente determinante para quem está à margem. Maria Rita Kehl, em seu artigo “Lugar Que Cala”, destaca como a branquitude historicamente determina quem pode falar, sobre o quê e sob quais condições. Essa dinâmica, presente há mais de 500 anos, evidencia um padrão where o branco sempre foi autorizado a falar de si e dos outros, sem se reconhecer como racializado, impondo-se como referência neutra e universal.

Kehl critica os movimentos identitários, alegando que não produzem laços sociais, mas, na realidade, eles constroem laços comunitários, redes de afeto e resistência. O cerne da questão talvez seja a recusa desses grupos em se vincular à branquitude como condição para sua existência.

Outro ponto relevante é o universalismo seletivo da branquitude, que persiste na elite econômica, política e acadêmica do Brasil, mesmo sendo o segundo maior país negro do mundo. A branquitude, ao se fechar em seu próprio nicho, mantém espaços de poder inacessíveis para a maioria, operando na exclusão e no privilégio silencioso.

A crítica de Kehl aos movimentos identitários, rotulando-os como “nichos narcísicos”, contrasta com a própria identificação narcísica e identitária da branquitude. A autora desconsidera o contexto histórico e social ao reduzir complexas discussões sobre violência racial a exemplos individuais, ignorando a assimetria estrutural da violência policial contra a população negra.

Os movimentos identitários não se recusam ao diálogo, mas rejeitam a imposição da branquitude de determinar os termos da conversa. O conceito de “lugar de fala” surge para equilibrar séculos de monopólio discursivo branco, promovendo espaços de autonomia e construção coletiva do conhecimento, rompendo com a narrativa historicamente dominante.

O incômodo está na mudança de paradigma, onde a branquitude não detém mais o monopólio da voz. É um convite para repensar e reconstruir relações de poder e diálogo mais equitativas e inclusivas.

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