Ao deixar a Secretaria de Ásia e Pacífico do Ministério das Relações Exteriores, o embaixador brasileiro Eduardo Paes Saboia expressou desesperança quanto ao atual estado da diplomacia, alertando para os perigos que ameaçam o mundo. Durante um evento realizado na representação diplomática da Nova Zelândia na semana passada, Saboia fez declarações fortes, especialmente após o incidente polêmico envolvendo o regime de Nicolás Maduro.
No evento, que celebrou a assinatura do documento fundador da Nova Zelândia, Saboia discursou sobre a contínua colaboração diplomática entre Brasil e Nova Zelândia em um cenário mundial considerado em risco. Ele compartilhou um olhar pessimista sobre o presente, contrastando-o com o otimismo que marcou o início de sua carreira em 1989.
“Quando iniciei na carreira diplomática, viamos um horizonte de esperança. Tínhamos uma nova Constituição, a queda do Muro de Berlim, ciclos de conferências da ONU, novos consensos e a crença no comércio como ferramenta de desenvolvimento. Parece que esse ciclo positivo chegou ao fim, infelizmente”, afirmou o diplomata.
Apesar do clima de desesperança, o embaixador ressaltou a importância de continuar defendendo os valores fundamentais. Suas palavras refletem o impacto das mudanças internas no Ministério das Relações Exteriores, que diretamente afetaram sua trajetória.
Polêmica com Maduro e Mudança de Funções
Durante a última cúpula dos Brics, sediada em 2024 na Rússia, Saboia se viu no centro de uma controvérsia entre Brasília e Caracas. Na ocasião, a Venezuela criticou o Brasil por vetar sua entrada no bloco e dirigiu duras críticas ao embaixador, bem como ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Posteriormente, o governo venezuelano acusou o embaixador, que atuava como negociador dos Brics, de manter um veto originado pela gestão anterior do Brasil, liderada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Em meio a essas polêmicas, Saboia foi afastado da função de sherpa do Brasil nos Brics. Nos bastidores diplomáticos, especula-se que a mudança foi motivada pela pressão da ex-presidente Dilma Rousseff, que atualmente preside a instituição financeira do bloco, o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD).
Além disso, o embaixador foi removido da Secretaria de Ásia e Pacífico do Itamaraty, devendo assumir em breve a embaixada brasileira na Áustria, uma vez que seu nome seja aprovado pelo Senado Federal. Enquanto isso, o cargo de negociador brasileiro nos Brics será ocupado por Mauricio Carvalho Lyrio, ex-secretário de Assuntos Econômicos e Financeiros do Itamaraty.
A próxima cúpula do bloco, que ocorrerá no Brasil, após o país assumir a presidência dos Brics em 1º de janeiro de 2025, terá como principais temas a reforma da governança global e a cooperação no Sul Global.
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