Um relatório divulgado pela entidade holandesa Somo (Centro de Pesquisa sobre Corporações Multinacionais) revelou que as big techs compraram uma empresa a cada 11 dias, entre 2019 e 2024, totalizando 191 aquisições. Amazon, Alphabet (dona do Google), Apple, Meta e Microsoft estão entre as empresas analisadas, visando fortalecer sua dominância em áreas como inteligência artificial, robótica e computação em nuvem.
Em um dos casos abordados, a Amazon adquiriu uma startup brasileira sem gerar manchetes no país, demonstrando a frequência com que empresas da União Europeia, seguidas pelo Reino Unido, foram alvo dessas aquisições. Segundo a pesquisa, estratégias como contratação de funcionários-chave e licenciamento de propriedade intelectual são usadas para passar despercebidas pelos órgãos reguladores.
A prática de adquirir empresas menores para fortalecer a posição no mercado não se limita apenas às big techs americanas. O Google, por exemplo, desmantelou a concorrente no setor de inteligência artificial, Character.AI, ao contratar engenheiros essenciais. Outro exemplo citado foi a compra da empresa carioca Auti Books pela Amazon, que viabilizou a entrada da plataforma de audiolivros Audible no Brasil em 2023.
A complexidade do setor foi um dos argumentos para que a operação fosse aprovada sem restrições pelo Cade, mesmo sendo considerada uma estratégia de integração vertical para aumentar a dominância da empresa no mercado. A questão da concorrência no setor digital e as práticas das big techs têm levado países a discutir propostas de lei para regulamentar o poder dessas corporações. O governo Lula, por exemplo, analisa um anteprojeto inspirado em leis europeias que estabelecem regras para transparência e concorrência em mercados digitais dominantes.
O relatório aponta lacunas na regulamentação europeia, como o caso da aquisição da empresa de cibersegurança Wiz pelo Google por US$ 32 bilhões, um dos negócios divulgados de maior valor, que pode passar despercebido pelas autoridades devido ao faturamento da empresa na União Europeia.
A concentração de negócios nas mãos das big techs preocupa especialistas, que alertam para a dependência crescente da sociedade em setores cruciais como comunicação e inovação. O debate sobre o tema envolve não apenas questões de mercado, mas também de cidadania e troca de informações em uma sociedade cada vez mais digitalizada.
O relatório da Somo destaca a urgência de atualizar a legislação para garantir a concorrência justa e evitar monopólios, assegurando que a inovação e a diversidade no mercado sejam preservadas diante do avanço das gigantes da tecnologia.
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