Em Brasília, líderes na Câmara dos Deputados indicaram reservadamente que não enxergam ambiente favorável para o avanço do projeto que propõe anistia aos detidos em 8 de janeiro, apesar da pressão exercida sobre o presidente da Casa, Hugo Motta, em um evento liderado por Jair Bolsonaro.
Representantes da esquerda consideram a estratégia como contraproducente e que poderia isolar ainda mais o partido no Parlamento. O líder do PT, Lindbergh Farias (RJ), comentou: “É uma tática desesperada. Se acreditam que Hugo agirá favoravelmente após tentarem pressioná-lo, estão enganados.”
O líder do PDT, Mário Heringer (MG), classificou as ações como prejudiciais. “Atacar Hugo Motta é um desserviço institucional, reflete uma postura transgressora contra as instituições e a Constituição. Apesar de legítimo, o movimento é, mais uma vez, errático”, afirmou.
Em São Paulo, deputados de diferentes espectros políticos reconheceram que Motta estava sendo claramente alvo do ataque. O Pastor Silas Malafaia foi o principal porta-voz do ato para poupar os demais parlamentares de possíveis atritos com o presidente da Câmara.
“O presidente da Câmara, Hugo Motta, disse ‘eu sou árbitro, juiz’. A menos que seja um juiz injusto, pois pediu aos líderes partidários que não assinassem a urgência do projeto de anistia”, declarou Malafaia. Ele também fez um apelo para que Motta mudasse de postura, ressaltando que estaria envergonhando o povo da Paraíba.
Após a última reunião de líderes, o líder do PL, Sóstenes Cavalcante (RJ), mencionou que Motta teria solicitado aos líderes que não assinassem o requerimento de urgência, o que levou o partido a buscar assinaturas individualmente para encaminhar o projeto diretamente ao plenário. Segundo Sóstenes, atualmente há 165 votos de apoio, dos 257 necessários.
A decisão final sobre a pauta cabe a Motta, porém, com o volume de assinaturas obtidas, o requerimento de urgência deverá seguir diretamente para o plenário.
Em um pronunciamento no ato, Altineu Côrtes (PL-RJ), vice-presidente da Casa, afirmou que Motta “será pautado pela maioria da Câmara dos Deputados”, e logo após, consultou os sete governadores presentes no evento, que confirmaram o apoio à pauta.
Líderes partidários aliados de Motta negam a existência de qualquer pedido para não assinar o requerimento, mas compartilham da visão de que não é o momento político oportuno para debater a proposta. Argumentam que é crucial apoiar o presidente da Casa e dividir com ele essa pressão crescente.
Aliados de Motta enfatizam que o ato, que reuniu um público estimado em 55 mil pessoas, aumenta a pressão sobre a Casa como um todo, especialmente em um ano eleitoral. Porém, acreditam que não será suficiente para provocar uma mudança de posição por parte de Motta.
Destacam duas razões para manter a proposta em suspenso: primeiro, a harmonia com o STF; segundo, a relação com o Senado, onde o presidente Davi Alcolumbre (União Brasil-AP) já declarou não considerar o tema uma prioridade.
Na esfera governamental, a ministra Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais) observa que os ataques direcionados a Motta e aos ministros do STF durante o ato reforçam a decisão acertada do Judiciário em relação à tentativa de golpe em 8 de janeiro.
O ministro Jorge Messias (AGU) rotulou o evento em São Paulo como de “extrema direita” e apontou para sua ineficácia.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira (PT), descreveu a manifestação como “um espetáculo de irrelevância e constrangimento em dois idiomas”, ironizando um trecho do discurso de Bolsonaro.
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