Integrantes do PSOL e PT estão trabalhando juntos para encontrar uma solução que impeça a cassação do mandato do deputado federal Glauber Braga (PSOL-RJ), porém esbarram na resistência de membros do centrão, grupo político atualmente predominante na Câmara.
O Conselho de Ética da Câmara dos Deputados recomendou, por 13 votos a 5, a perda do mandato de Glauber no dia 9, data em que o congressista iniciou uma greve de fome nas dependências da Casa.
Glauber, segundo assessores, está se alimentando apenas de água, soro e bebidas isotônicas. Ele e seus aliados improvisaram um colchão próximo à mesa de coordenação do plenário 5 da Câmara, local onde o conselho recomendou a cassação.
Nas últimas semanas, parlamentares do PSOL e PT iniciaram negociações com colegas de outros partidos com o objetivo de preservar o mandato do deputado psolista.
A estratégia seria aprovar em plenário uma punição menos severa, como uma suspensão do mandato ou uma advertência, considerando o episódio em que, em abril do ano passado, Glauber expulsou da Câmara com chutes e empurrões um membro do MBL (Movimento Brasil Livre).
A decisão final de acatar ou não a recomendação do Conselho de Ética cabe ao plenário da Câmara, ainda sem data definida. A votação é aberta, nominal e exige a maioria absoluta dos votos dos parlamentares (pelo menos 257 dos 513).
Uma possibilidade criada na gestão de Arthur Lira (PP-AL) permite a votação de uma emenda antes da análise da recomendação do Conselho, abrindo a oportunidade para uma punição mais branda.
Apesar dessa abertura, ainda não há um consenso no plenário em favor de Glauber, devido à sua postura combativa, constantes críticas ao centrão e poucas relações com parlamentares de outros partidos.
Embora haja certo desconforto entre alguns membros do Conselho de Ética em relação à dura pena de cassação, não há um esforço significativo dos líderes partidários para reverter essa decisão.
Espera-se que a ministra Gleisi Hoffmann (PT), à frente da Secretaria de Relações Institucionais, participe das negociações com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), de forma discreta para evitar conflitos com líderes partidários.
O presidente da Câmara encontra-se no exterior e deve iniciar as conversas na próxima semana. Um aliado de Motta ressalta a necessidade de evitar interferências do Executivo ou Judiciário nesse processo, uma vez que se trata de uma questão interna da Casa.
Publicamente, o governo destaca que se trata de uma questão interna do Legislativo, porém, membros do governo têm expressado discordância com a possível cassação de Glauber.
O PSOL pretende apresentar um recurso à CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) na próxima semana, argumentando que o relatório aprovado se baseia mais em desavenças anteriores de Glauber do que na agressão contra o membro do MBL.
Glauber e seus apoiadores atribuem a Arthur Lira a articulação pela perda de mandato, o que é negado pelo ex-presidente da Câmara. Durante sua gestão, o deputado do PSOL foi um opositor de Lira, que por sua vez é alvo de críticas recorrentes de Glauber.
Caso a cassação seja efetivada, será a primeira vez na história que um congressista perde o mandato por agressão física. O suplente de Glauber é Heloísa Helena (Rede-RJ), que tem potencial para se tornar um desafio adicional ao governo caso assuma o cargo, de acordo com aliados do deputado.
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