A terceira fase da operação Overclean, deflagrada na quinta-feira (3/4), surge como uma investigação profunda sobre um grupo supostamente envolvido em desvios de verbas públicas de contratos financiados por emendas parlamentares, principalmente do chamado orçamento secreto.
O foco da investigação é direcionado para empresas vinculadas aos empresários Alex e Fábio Parente, responsáveis por contratos milionários com órgãos federais, como o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), além de órgãos estaduais e municipais. Os crimes investigados englobam organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção e fraude em licitações.
Esta nova fase da operação é o primeiro desdobramento após o caso ser remetido ao Supremo Tribunal Federal (STF) devido a indícios da participação do deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) no esquema.
Os investigadores basearam-se em conversas encontradas nos celulares nas fases anteriores, dados do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), depoimentos e interceptações telefônicas.
Neste estágio, os alvos incluem membros da família Parente, um lobista do esquema e o empresário José Marcos Moura, conhecido como Rei do Lixo na Bahia. A Polícia Federal aponta Marcos Moura como o elo político do grupo.

Enquanto as fases iniciais focavam nos mecanismos das fraudes em contratos municipais e federais, a nova etapa da Overclean começa a revelar a extensão dos tentáculos do grupo no executivo federal, partidos políticos e operadores financeiros.
Uma das revelações da terceira fase é a figura de Gabriel Mascarenhas Sobral, apontado como lobista do grupo, agindo em dois ministérios do governo federal.
A PF evidencia que Sobral atuava de maneira sistemática para favorecer as empresas do grupo, facilitando a liberação de emendas e a celebração de convênios nos ministérios da Integração e do Desenvolvimento Regional, além da pasta da Agricultura e Pecuária.
A identificação de Gabriel Sobral como responsável pela liberação de emendas reforça a investigação nos contratos custeados por esse tipo de verba pública.
O ministro Kassio Nunes Marque, do STF, menciona conversas entre Sobral e Alex Parente, seguidas de transferências financeiras através de empresas fictícias.
De acordo com a decisão, a PF recebeu do Coaf informações sobre transações suspeitas realizadas por Sobral com uma pessoa detentora de foro privilegiado.
Além disso, a nova fase da Overclean destaca a influência de Marcos Moura, o Rei do Lixo, e aponta para apoiadores da União Brasil, cuja liderança está sob escrutínio.
Informações do Coaf mostram transações suspeitas no valor de aproximadamente R$ 80 milhões realizadas por Moura. Uma dessas transações, de R$ 435 mil, feita por uma de suas empresas, teve como destinatário uma pessoa com foro privilegiado.
A decisão ministerial evidencia a atuação do empresário em negociações de cargos na prefeitura de Belo Horizonte em nome da União Brasil, da qual Moura faz parte.
Conversas entre Moura e o falecido prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, indicam a interferência do empresário na nomeação de secretários na capital mineira.
Um desses cargos negociados na conversa foi ocupado por Bruno Barral, nomeado secretário de Educação na cidade após a atuação de Marcos Moura. Posteriormente, Barral ocupou a mesma posição em Salvador, onde a PF detectou sua colaboração com o grupo dos irmãos Parente e Marcos Moura.
Operação Overclean:
A operação visa contratos vultosos de empresas ligadas aos irmãos Alex e Fábio Parente com órgãos federais, estaduais e municipais. Uma dessas empresas, a Allpha Pavimentações, recebeu do governo federal, via Dnocs, cerca de R$ 67 milhões de um total de aproximadamente R$ 150 milhões em contratos firmados entre 2021 e 2024.
Os pagamentos iniciaram em junho de 2021, durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), e continuaram até julho de 2024, sob a gestão de Lula (PT).
Dados do Portal da Transparência federal destacam que a verba destinada aos pagamentos provém da rubrica do orçamento secreto. Alex Parente, sócio da Allpha e de outras empresas, foi alvo de uma ação controlada da PF em 3 de dezembro de 2024.
Em 10 de dezembro, sete dias após a apreensão dos documentos, a primeira fase da Overclean foi deflagrada pela PF.
A investigação teve início com a apuração de desvios em um contrato do Dnocs, expandindo seu escopo após a análise de dados telemáticos e gravações ambientais que revelaram a atuação de um grupo de empresas em contratos milionários com o governo federal, além de administrações estaduais e municipais.
A PF cruzou as informações do material apreendido no avião com dados da investigação sobre desvios milionários em contratos com Dnocs, estados e municípios, o que resultou na segunda fase da Overclean, em 23 de dezembro, com a prisão de vários envolvidos.
Posteriormente, em 15 de janeiro de 2025, o caso foi remetido ao STF após indícios de envolvimento de Elmar Nascimento.
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Planilhas com referências a pagamentos considerados propina pela PF
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Planilhas com referências a pagamentos considerados propina pela PF
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Se esses elementos alarmantes não forem investigados e devidamente esclarecidos, o tecido social e político de nossa nação pode sofrer sérias consequências. A transparência e a justiça são fundamentais para garantir um futuro mais íntegro e promissor para todos os cidadãos.
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