Como as facções usam MCs e bailes como armas de domínio e expansão

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“CV, CV… é mais um dia de luta, nós vamo traficar.” No coração das comunidades cariocas, essas palavras de Marlon Brandon Coelho, conhecido como MC Poze do Rodo, reverberam como um hino. Ele arrasta multidões em seus shows, onde as letras não disfarçam a realidade do tráfico, apresentando armas de guerra e ostentação como símbolos de poder. Recentemente, cenas de criminosos exibindo fuzis durante um de seus shows na Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, inundaram as redes sociais, trazendo à tona um fenômeno que vai muito além da música.

Não é apenas Poze que se destaca neste quadro. Mauro Davi Nepomuceno, o Oruam, também recebeu destaque, com suas letras que reverenciam o Comando Vermelho (CV), facção à qual seu pai, Marcinho da VP, é vinculado como um dos líderes. Em sua música “Tropa do Urso”, Oruam menciona um notório traficante conhecido como Doca ou “Urso”. Com mais de 100 milhões de visualizações em seus clipes no YouTube, Oruam exemplifica a forte conexão entre música e crime organizado.

Essa interação musical não é uma questão isolada. Nas escolas, campos de futebol e nas ruas, crianças e adolescentes cantam trechos que reverberam as letras desses artistas. Através do funk, rap e trap, artistas têm erguido seus microfones para narrar histórias de poder e ostentação, desafiando o Estado e até mesmo a segurança pública. A popularidade desses músicos em bailes e festas nas comunidades os transforma em ícones controversos que impulsionam debates sobre o papel da música na apologia ao crime.

O especialista em segurança pública Leonardo Sant’Anna alerta que o entretenimento já foi historicamente usado por organizações criminosas como um método para conquistar a confiança da comunidade. “O crime organizado explora brechas legais e fragilidades sociais”, afirma. As apresentações musicais não só geram receitas significativas, mas também atuam como plataformas de recrutamento para novas integrantes, solidificando a presença das facções nas comunidades.

Ameaça à segurança pública
Sant’Anna destaca que o potencial de recrutamento através dessas músicas é alarmante. “Elas criam uma narrativa que romantiza o crime como uma necessidade social”, explica. O envolvimento das facções na organização de eventuais shows reforça a confiança das comunidades em suas ações ilegais, tornando esses encontros estratégicos para o crime.

oruam se diz voz dos presos critica o estado e apaga desabafo

Recentemente, a segurança pública foi novamente ameaçada com a prisão de dois funkeiros, MC Dym e MC Dick, suspeitos de integrar o Comando Vermelho. Enquanto MC Dym, com 47 mil seguidores, lançou o clipe “Discípulos de Pablo Escobar” — que faz alusão ao famoso traficante — MC Dick é conhecido por letras que exaltam práticas criminosas e ameaças a outros grupos.

Nesse contexto, um projeto de lei polêmico, batizado de Lei Anti-Oruam, gerou debates acalorados. Proposto pela vereadora Amanda Vettorazzo na Câmara Municipal de São Paulo, a legislação visa impedir a contratação de artistas que promovem a apologia ao crime e ao consumo de drogas em eventos para jovens. Enquanto algumas propostas ganham força, outras já foram aprovadas, sinalizando uma tentativa de fornecer uma resposta política ao crescente impacto das letras nas comunidades.

Para Sant’Anna, a proposta é um passo inicial importante, embora mal nomeada. “Se implementada corretamente, essa política pode ajudar a enfraquecer a economia do crime”, argumenta. Oruam é apenas uma peça nesta engrenagem complexa, e ações sérias são essenciais para construir um futuro melhor.

Estamos vivendo um momento crucial, onde a música, a segurança pública e as políticas sociais se entrelaçam. O que você pensa sobre a influência da música na juventude? Você acredita que legislar é o caminho certo para combater essa realidade? Deixe seu comentário e vamos debater!

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