A recente elevação das alíquotas do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) gerou tensões na equipe econômica do governo de Luiz Inácio Lula da Silva e pode levar o Banco Central a interromper o aumento da taxa básica de juros (Selic) antes do previsto. Essa análise é de Marcelo Noronha, CEO do Bradesco, que trocou mensagens com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, alertando sobre as consequências negativas para o mercado.
O IOF, um imposto federal aplicável tanto a pessoas físicas quanto jurídicas, incide sobre operações de crédito, câmbio e outros serviços financeiros. Na última quinta-feira, medidas anunciadas pelo Ministério da Fazenda visavam aumentar a arrecadação, mas a resposta negativa do mercado forçou um recuo no governo, mesmo que as críticas nas redes sociais continuem.
Entre as alterações, destacam-se a taxação de 3,5% sobre investimentos de fundos nacionais no exterior, que rapidamente foi revogada após o descontentamento generalizado. Além disso, embora a alíquota de 1,1% sobre remessas para investimentos seja mantida, o aumento do IOF em operações de compra de moeda estrangeira e em gastos internacionais permaneceu.
Segundo Noronha, as modificações no IOF poderiam resultar em um aumento de 0,2 a 0,5 ponto percentual na Selic, que atualmente está em 14,75% ao ano — o patamar mais alto em vinte anos. “Aprendemos a lidar com uma política contracionista, e essas mudanças podem ser um fator que contrabalança o aumento da taxa Selic”, afirmou o CEO à GloboNews.
Ele sugeriu que, devido a novos fatores, o Banco Central poderia manter a taxa na próxima reunião do Copom, visto que as recentes medidas fiscais poderiam aliviar a pressão para um novo aumento. “Agora temos uma notícia sobre o contigenciamento, que pode impactar positivamente a política monetária”, explicou.
Questionado sobre possíveis desacelerações na economia brasileira, Noronha disse que “paciência” é a palavra do momento. A gestão fiscal é crucial para garantir um futuro onde as taxas de juros caiam continuamente, permitindo uma redução na relação dívida pública sobre o PIB. “É um momento que pode desacelerar a economia, mas ainda sim projetamos um crescimento entre 1,9% e 2% para 2025”, afirmou.
Diplomacia com o Ministro
Durante a entrevista, Noronha compartilhou detalhes sobre suas conversas com Haddad após o anúncio do aumento do IOF, elogiando a reação rápida do ministro em revogar parcialmente as medidas. “Defendo o equilíbrio das contas públicas e a contenção de gastos ineficientes. Essa abordagem aumenta o custo do crédito para as empresas, e foi uma questão que relacionei diretamente ao ministro, mostrando um pragmatismo necessário”, relatou.
Ao final, Noronha expressou satisfação com a resposta de Haddad, que reconheceu que um aumento de impostos poderia prejudicar o funcionamento dos fundos de investimento. “Fico feliz em ver que ambos podemos aprender com nossos erros — a persistência neles é o verdadeiro problema”, concluiu.
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