Bernardo Xavier, aos 32 anos, tomou uma decisão transformadora após concluir sua graduação. Em vez de se acomoda no ambiente tradicional de um escritório de advocacia, ele optou por uma jornada mais desafiadora e gratificante: tornou-se Agente Comunitário de Saúde (ACS). Sua missão é ir às ruas, batendo de porta em porta, e dessa forma, aproximar os serviços de saúde básica da população brasileira, ocupando um cargo fundamental no Sistema Único de Saúde, o SUS.
Neste ano, Xavier embarcou em uma viagem para Londres com um objetivo muito especial: compartilhar a experiência dos ACS brasileiros com os profissionais do NHS, o sistema de saúde público britânico. Essa troca de saberes marca uma colaboração internacional que visa inspirar melhorias no modelo britânico, através da rica trajetória do SUS.
A parceria nasceu de uma pesquisa do Imperial College de Londres, onde pesquisadores buscam replicar a atuação dos ACSs no Reino Unido, em colaboração com a Fiocruz. O projeto inicial começou no bairro de Pimlico e rapidamente se expandiu para novas áreas, como o condado litorâneo da Cornualha. Esses agentes estão atraindo a atenção internacional, como mencionado pelo jornal *The Telegraph*, por sua abordagem inovadora que busca lidar com a crescente demanda por serviços de saúde.
O foco do NHS agora é se aproximar do modelo de saúde pública brasileiro, que prioriza o acesso universal e integral à saúde. Em junho, o governo britânico revelará um plano de dez anos para expandir o trabalho dos ACSs, almejando implementar essa estratégia em 25 áreas da Inglaterra.
Tudo começou com Matthew Harris, um médico sanitarista que, após viver no Brasil e perceber a importância dos ACSs durante sua atuação em Pernambuco, trouxe essa ideia para o Reino Unido. Ele notou que, ao contrário do NHS, que geralmente adota uma postura mais reativa, o SUS pode entrar em ação de maneira proativa por meio da presença dos ACSs nas comunidades.
Após muitos desafios para implementar um projeto-piloto em Londres, o cenário mudou em 2021, quando as evidências dos resultados positivos dos ACSs foram apresentadas. Com isso, a ideia evoluiu e mais investimentos foram direcionados ao uso dessa estratégia nas comunidades britânicas.
O progresso tem sido notável. Em Pimlico, trabalham atualmente 24 ACSs em tempo integral e mais cinco em meio período, participando de um projeto que está previsto para durar dois anos. Outros 25 projetos independentes estão sendo desenvolvidos em diferentes regiões do Reino Unido, destacando o crescimento do número de ACSs, que já totaliza 150 profissionais em atuação.
Esses agentes têm uma forte conexão com as comunidades em que atuam, escolhendo residentes que possuam empatia e habilidades para resolver problemas. Um treinamento intensivo e uma supervisão semanal garantem que estejam preparados para enfrentar desafios, como a violência em áreas de risco.
Xavier, que conheceu essa vocação através de sua mãe, uma ACS de longa data, vive na pele os entraves diários, como operações policiais que podem interromper seu trabalho. Sua experiência em Londres foi de troca e aprendizado, ao compartilhar as táticas e desafios que enfrentam no Brasil, palestrando para os médicos britânicos sobre a realidade da saúde em seu bairro no Rio de Janeiro.
Os desafios de saúde que o Reino Unido enfrenta, como o aumento do discurso de ódio e as consequências das mudanças climáticas, são complexos. No entanto, a colaboração com o Brasil promete trazer novas perspectivas. Harris e seus colegas britânicos reconhecem que o aprendizado deve ser mútuo, e esse intercâmbio é apenas o começo.
Por sua vez, tanto Xavier quanto Jatobá, coordenador do ResiliSUS, acreditam firmemente que o SUS tem muito a ensinar ao mundo. Enquanto Xavier afirma que o SUS é uma das maiores conquistas do Brasil, Jatobá ressalta que seu funcionamento eficaz é sempre questionado por aqueles que não compreendem sua real importância.
Essa interação entre os dois países é um testemunho do valor das trocas de experiências em saúde, abrindo caminhos para um futuro mais equitativo e justificado em saúde pública. E você, o que acha dessa troca de experiências? Comente abaixo e compartilhe suas opiniões sobre a importância de modelos de saúde colaborativos!
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