O Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) decidiu reiniciar os pagamentos ao juiz aposentado José Eduardo Franco dos Reis, que se passou por um aristocrata inglês por mais de quatro décadas. Com um passado repleto de documentos falsos, ele adotou o nome fictício Edward Albert Lancelot Dodd-Canterbury Caterham Wickfield, criando uma vida que, aparentemente, não poderia ser mais distante da realidade.
Até abril, José Eduardo recebeu salários líquidos que ultrapassavam R$ 130 mil, mas os pagamentos foram interrompidos quando surgiram denúncias sobre sua identidade falsa. Agora, com a regularização de seus dados cadastrais, ele retoma sua aposentadoria, conforme informado pelo TJSP, que esclareceu que a suspensão se deu devido à suspensão do CPF vinculado ao cadastro do ex-magistrado.
A corte destacou que a mudança no nome no sistema judicial foi exclusivamente uma regularização administrativa. Contudo, José Eduardo enfrenta sérios problemas legais, incluindo um processo criminal por falsidade ideológica, o que acrescenta um novo capítulo à sua história polêmica.
Em março deste ano, o juiz recebeu um pagamento bruto de R$ 153.230,85. A partir de abril, no entanto, não há registros de novos depósitos, e os dados de junho ainda precisam ser atualizados. A mudança do nome no sistema foi oficializada em um ato publicado no Diário de Justiça, onde o TJSP abandonou sua identidade falsa para retornar ao nome verdadeiro.
O elo entre a mentira e a realidade
José Eduardo Franco dos Reis construiu sua identidade falsa ao longo de 40 anos, alegando ser descendente de nobres britânicos. Em entrevista de 1995, ele afirmava ter raízes aristocráticas, enganando diversas instituições públicas, incluindo a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, onde se formou em 1992.
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) apresenta novas denúncias que revelam a fraude. As investigações iniciaram quando José Eduardo tentou obter a segunda via de seu RG, utilizando uma certidão de nascimento falsificada. Ao verificar suas impressões digitais, a polícia descobriu que pertenciam ao verdadeiro José Eduardo, desencadeando uma série de investigações que desmascararam a farsa.
Os documentos falsificados tinham sido utilizados para obter identidade, passaporte e título de eleitor com o nome inglês. Mesmo assim, Eduardo conseguiu viajar para fora do país utilizando a identidade falsa após a fraude ser descoberta.
Quem é José Eduardo?
Natural de Águas da Prata e hoje com 67 anos, ele alegou à polícia ser um artesão, enquanto o MPSP acredita que ele inventou a persona britânica em 1980. Nessa época, apresentou-se como filho de nobres, buscando a documentação que mudaria sua vida.
A defesa e suas alegações
Em seu depoimento, José Eduardo relatou ter descoberto que tinha um irmão gêmeo após a morte de seu pai, o que alimentou sua farsa. Para justificar seu comportamento, sua defesa argumenta que ele sofre de Transtorno de Personalidade Esquizóide e pede que esse estado psicológico seja analisado judicialmente.
A defesa também sustenta que o ex-juiz não obteve vantagens financeiras diretas com a fraude, o que levanta questões sobre sua culpabilidade. Esse emaranhado de identidade e engano agora levanta discussões sobre a natureza da verdade e da lei.
A origem do nome falso
O nome utilizado por José Eduardo não foi escolhido ao acaso; ele tem referências profundas na literatura inglesa. Elementos dos nomes estão associados a clássicos de Charles Dickens e Geoffrey Chaucer, estabelecendo um vínculo entre a cultura popular inglesa e a mecânica de sua farsa.
Essas referências literárias, aliadas ao desejo de criar uma nova identidade, revelam um aspecto fascinante e trágico de sua história. O que uma vez foi uma busca por identidade se tornou um labirinto de enganos e consequências legais.
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