Em um cenário marcado por tensões, a primeira rodada de interrogatórios no processo que investiga uma suposta tentativa de golpe de Estado trouxe à tona declarações da defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Os advogados consideraram as falas de Mauro Cid, ex-ajudante de ordem e tenente-coronel, como “extremamente positivas”, revelando contradições que podem favorecer a linha de defesa.
Celso Vilardi, advogado da defesa, destacou a “memória seletiva” de Cid. Segundo ele, as contradições que surgiram durante os depoimentos serão usadas para questionar a validade das delações apresentadas. Vilardi critica: “Quando confrontado, ele afirma que esqueceu. Assim é fácil delatar.” Essa observação foi feita após a sessão da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta segunda-feira.
O advogado também mencionou uma reunião com empresários no Palácio da Alvorada, citada por Cid, onde o militar aparentemente “inventou” detalhes. Ele observou que Cid não se lembrava de informações cruciais, como um documento solicitado dois dias antes da reunião com o general Walter Braga Netto. “É o sétimo depoimento diferente, não há um idêntico”, acrescentou Vilardi, ressaltando a inconsistência das declarações.
“Quando confrontado, ele diz que esqueceu. Assim é fácil delatar”, criticou o advogado, após o término da sessão na Primeira Turma do STF.
Durante o interrogatório, Cid negou ter recebido ordens de Bolsonaro para desmobilizar manifestantes em frente a áreas militares depois da eleição de 2022. Ele também afirmou não ter percebido qualquer incentivo do ex-presidente aos atos antidemocráticos ocorridos em 8 de janeiro de 2023.
Mudanças na Minuta do Golpe
Por outro lado, Cid confirmou que Bolsonaro recebeu e modificou o texto da chamada “minuta do golpe”. De acordo com ele, o ex-presidente teria “enxugado a minuta”, inicialmente planejada para prender diversas autoridades, restrigindo-se apenas a ações contra Alexandre de Moraes, ministro do STF e relator do processo.
Na mesma sessão, o deputado federal Alexandre Ramagem, ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), foi interrogado. A sessão foi suspensa na noite de segunda e será retomada nesta terça-feira a partir das 9h, com o depoimento do ex-comandante da Marinha, Almir Garnier.
Ao todo, a Primeira Turma do STF reservou cinco dias para ouvir Bolsonaro, Cid e outros seis réus, incluindo Anderson Torres e Augusto Heleno, ex-ministros do governo. O advogado Celso Vilardi sinalizou que Bolsonaro deverá abordar a questão do “enxugamento da minuta” durante seu depoimento amanhã.
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