O professor Evandro Menezes de Carvalho, renomado especialista em direito internacional e nas relações entre Brasil e China, se tornou alvo de ataques orchestrados por bolsonaristas após ser monitorado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Esse episódio ganhou destaque quando notícias falsas começaram a circular sobre sua suposta ligação com espionagem chinesa.
A Polícia Federal (PF) incluiu o nome de Carvalho em um relatório que destacava seu monitoramento pela Abin, utilizando um software espião conhecido como FirstMile entre 2019 e maio de 2020. O relatório associou essas ações às operações chamadas Madrugada, Moshu e Moshu1. E foi meses depois, em agosto de 2020, que o jornalista bolsonarista Oswaldo Eustáquio fez uma denúncia infundada em seu canal do YouTube, rotulando Evandro como um “espião” a serviço de interesses chineses.
As investigações da PF revelaram que a estrutura da chamada Abin Paralela estava sendo utilizada para disseminar desinformação e atacar adversários políticos. Funcionários da Abin repassavam informações ao núcleo político de uma organização criminosa, que foram utilizadas para criar e propagar dossiês falsos. O caso que envolveu Evandro Carvalho é emblemático dessa manipulação de informações.
Eustáquio, em seus vídeos, alegou que autoridades americanas, como o FBI e a CIA, teriam interesse em investigar Carvalho por sua suposta atuação em favor de interesses chineses. Ele insinuou que o professor seria responsável por conectar o ex-presidente Michel Temer à cúpula do governo chinês, uma afirmação que eleva ainda mais a gravidade da desinformação disseminada.
Em entrevista, Carvalho expressou sua preocupação com os ataques que vinha sofrendo, associando-os diretamente a uma operação clandestina motivada por razões políticas e ideológicas do governo Bolsonaro. “O problema não era apenas Oswaldo Eustáquio, mas quem o instruiu a agir assim. Essa é a dúvida que persiste”, afirmou.
Para o professor, o monitoramento e os ataques que ele recebeu podem ser uma estratégia destinada a desviar a atenção de outras questões mais profundas e preocupantes. “A posição que ocupei nunca esteve ligada a um partido político, mas questiono: qual é o real interesse por trás disso tudo?”, refletiu.
Carvalho está considerando recorrer à Justiça contra a União, embora ainda esteja amadurecendo essa decisão. Ele acredita que uma investigação mais aprofundada possa revelar as motivações que levaram ao seu monitoramento. Ao mesmo tempo, enfrenta uma onda de ameaças e ataques, destacando que o relatório da PF, mesmo sendo um marco positivo, não trouxe surpresa diante da gravidade dos acontecimentos.
“É revoltante pensar que quem age em desacordo com os interesses nacionais permanece impune, enquanto eu sou atacado. A relação entre Brasil e China é, na verdade, baseada em interesses comerciais, não políticos. Assim, é inusitado pensar que a direita tem uma melhor relação com a China do que a esquerda”, declarou Carvalho, em tom frustrado.
Por fim, Eustáquio confirmou sua veiculação das informações sobre Carvalho, alegando que elas vieram da PF e não da Abin. Ele destacou que, durante uma abordagem de agentes da PF em 2020, foram apresentados documentos relacionados à investigação do professor e que os vazamentos ocorreram devido à indignação de certos agentes com a falta de ação da gestão de Sergio Moro na época.
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