‘Nós, brasileiros, somos muito criativos e pouco inovadores’

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Valter Pieracciani, empresário e pesquisador com mais de três décadas de experiência em inovação, compartilha sua visão sobre a realidade do Brasil em relação à inovação no mercado. Ele reconhece que a criatividade é abundante no país, mas muitas empresas lutam para transformar ideias brilhantes em inovações que realmente fazem a diferença. Para Valter, o segredo reside em uma combinação de estratégia, valorização das pessoas e conexões eficazes.

Durante uma entrevista, Pieracciani destaca que a Bahia está emergindo como um polo de inovação, desafiando antigos preconceitos sobre desigualdade tecnológica entre as regiões brasileiras. “Hoje, a Bahia é uma das referências nacionais de inovação”, afirma ele. Sua abordagem sistemática para transformar o potencial criativo em resultados tangíveis é clara e prática.

Ele identifica quatro características essenciais que diferenciam empresas inovadoras das demais. Primeiramente, estas empresas possuem uma estratégia clara de inovação. Elas sabem onde querem chegar e têm um plano para isso. Em segundo lugar, contam com processos e práticas que permitem transformar ideias em soluções concretas. O terceiro componente crítico são as pessoas. Todas nascem com uma capacidade inata de inovar, mas muitas perdem essa habilidade devido à pressão social e educacional. As empresas que prosperam são aquelas que valorizam e incentivam essa capacidade. Por fim, as conexões são fundamentais. Empresas inovadoras se conectam com startups, universidades e institutos de ciência, fortalecendo sua rede de inovação.

Há uma crença comum de que a inovação é uma questão de cultura, mas Pieracciani argumenta que a cultura é, na verdade, o resultado de práticas bem implementadas. Para ele, mudar a cultura organizacional exige um foco nas práticas cotidianas, como a capacidade de experimentar, garantir que as ideias sejam reconhecidas e aprender com os erros. Todo esse processo gera um ciclo virtuoso: práticas que reforçam a cultura e vice-versa.

Para iniciar essa transformação cultural, o empresário sugere um diagnóstico completo que analise o estágio atual da organização em relação às suas práticas de inovação. A partir desse diagnóstico, é possível traçar um plano de ação para maximizar cada um dos quatro ingredientes essenciais que ele mencionou. Com isso, empresas podem aprimorar sua estratégia, liberar o potencial criativo de suas pessoas, refinar processos e estabelecer novas conexões.

Na visão de Pieracciani, o conceito de inovação atualmente está profundamente ligado à experiência e emoção do consumidor. Ele argumenta que, ao invés de se concentrar em inventar, as empresas precisam inovar em experiências que ressoam com o público. “Precisamos escutar nossos clientes e entender as mudanças socioculturais que impactam suas vidas”, enfatiza. O foco deve ser criar valor e qualidade de vida, adaptando-se às novas realidades.

Embora o Brasil seja reconhecido por sua criatividade nas artes e na publicidade, a expressão desse potencial no ambiente corporativo ainda enfrenta desafios. Apesar de ser o país mais criativo do mundo, segundo o Cannes Lions, o Brasil ocupa apenas a 50ª posição no ranking global de inovação corporativa. Para Pieracciani, a solução está na implementação de processos estruturados que garantam que a criatividade não se perca. Para inovar, é preciso método e uma execução eficaz.

Ele ressalta que a inovação é um processo que envolve riscos e requer um ambiente que não penalize o fracasso. Cita ainda que o Brasil possui um potencial imenso que, se aproveitado adequadamente, poderia elevar o país a novas posições no ranking de inovação global.

Além disso, Pieracciani também se preocupa com micro, pequenas e médias empresas. Muitas vezes, esses negócios não aproveitam os incentivos fiscais disponíveis, desconhecendo as oportunidades que poderiam impulsionar sua inovação. Ele destaca que há recursos significativos à disposição, mas é crucial que estas empresas aprendam a utilizar os incentivos para tirar proveito de seus potenciais criativos.

Sobre a relação com o poder público, Valter acredita que estamos em um excelente momento, com um número recorde de recursos destinados à inovação. No entanto, o desconhecimento e o medo por parte de alguns empresários ainda são barreiras que impedem o acesso a esses recursos. O foco, ele diz, deve ser democratizar essas informações, tornando-as acessíveis a todos.

Enquanto o mundo avança com a inteligência artificial, Pieracciani vê uma oportunidade incrível para as empresas utilizarem essa tecnologia para lidar com tarefas repetitivas, liberando as mentes e corações das equipes para se concentrar na inovação. A verdadeira inovação, segundo ele, envolve sentir e compreender as emoções dos consumidores, algo que as máquinas ainda não conseguem fazer.

Valter, que se mudou da Itália para o Brasil há cinco anos, reflete sobre como suas experiências de adaptação moldaram sua visão e capacidade de inovar. Ele observa que, apesar das crises enfrentadas pelo Brasil, a resiliência dos brasileiros gera um ambiente fértil para a criatividade e inovação, um verdadeiro capital humano que deve ser aproveitado.

Por fim, em relação ao futuro da inovação no Brasil, Pieracciani declara que a Bahia está se firmando como uma referência em inovação, desafiando antigas desigualdades regionais. O potencial que ele viu durante suas visitas às empresas locais demonstra que, se o país unir seus talentos e recursos, poderá alavancar sua posição no cenário global de inovação.

E você, o que pensa sobre a inovação no Brasil? Deixe seu comentário e compartilhe suas ideias conosco!

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