Roubaram meu jornal. Estão roubando uma nação. E a gente segue fingindo que não vê.
Cogitei cancelar minha assinatura semanal de A TARDE. Não pela falta de notícias, mas pela constante chateação: meu jornal estava sempre esparramado na mesa do saguão do prédio. Apesar de avisar reiteradamente no grupo do WhatsApp que a assinatura não é comunitária, o/a folgado/a continua a desfrutar das minhas leituras. Uma simples câmera de segurança poderia resolver, mas o medo de possíveis consequências legais me impede.
É curioso como a civilidade é esperada em um edifício com apenas 20 apartamentos, onde todos somos educados e respeitosos. No entanto, a falta de respeito se manifesta em atos simples, como o roubo contínuo de vasos de plantas que mantenho. Começo a perguntar: a apropriação do que não lhe pertence é uma prática aceitável? As pequenas injustiças são irritantes, mas, por menores que sejam, não devemos ignorá-las.
Agora, imagine viver em um território ancestral, onde um vizinho expulsa você desde o início do século XX, adquirindo suas terras e perpetuando atrocidades. Esse é o cenário que muitos palestinos enfrentam. No dia 7 de outubro de 2023, uma retaliação disparou um ciclo de violência que o mundo assistiu estarrecido. Um vizinho que sofreu durante sua história e que, pacificamente, não deveria repetir as injustiças que uma vez vivenciou.
Pesquisas revelam que 82% dos judeus israelenses apoiam a expulsão forçada de moradores de Gaza, e 47% aprovam a violência extrema. É assustador, mas há vozes contrárias, tanto dentro quanto fora do país, que se opõem a esse massacre. Precisamos levantar nossas vozes e usar as ferramentas que temos: a palavra, as redes sociais e as manifestações.
Falar sobre o povo judeu é um tema espinhoso. Embora eu admire sua cultura e tenha participado de celebrações como o Chanucá, recuso-me a defender as injustiças cometidas. O extermínio em Gaza não pode ser ignorado. É essencial que a voz da oposição se fortifique, clamando por justiça e solidariedade.
Talvez a pressão internacional obrigue a Israel a rever suas ações. Precisamos ser firmes e rápidos nesse clamor, pois as vidas em Gaza estão em jogo, e não podemos permitir que mais crianças sejam perdidas nesse conflito.
Historicamente, povos coexistiram, talvez até emprestando açúcar uns aos outros. A resistência palestina é um sinal claro de que eles não permitirão que sua identidade seja apagada. Desconheço se compartilho de algum DNA com eles, mas escolho lutar por justiça e verdade. E assim, em vez de abrir mão da minha assinatura, começarei uma campanha para instalar uma câmera, propondo que a proteção ao que é meu comece aqui, imediatamente.
*ró-Ã é autora do livro Dor de facão & brevidades.
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