Adilson Souza Lima, antes conhecido como Roceirinho, era um simples filho do Recôncavo baiano. Seu apelido refletia uma infância dedicada à terra, onde, com mãos calejadas, cultivava sonhos que pareciam distantes. O suor na enxada era sua realidade até que o vetor do crime interrompeu sua trajetória. Com apenas 18 anos, inserido em um contexto de tráfico improvisado e descontrolado, Roceirinho começou a carregar pacotes de drogas, dando início a uma escalada que o levaria ao comando de uma das maiores facções da Bahia.
A sua saída de Nazaré foi marcada por uma mágoa profunda e um desejo ardente de vingança. Ao chegar a Salvador, foi atraído por um traficante local que enxergava nele a liderança ideal para expandir seus negócios. A sedução do poder, combinada à ambição desmedida, o transformou de mero empregado a um verdadeiro empresário do crime. Ao retornar à sua cidade natal, não o fez para buscar perdão, mas para exercer um domínio absoluto. Ele recrutou jovens, muitos filhos da mesma miséria que um dia conhecera, armando-os e estabelecendo um verdadeiro quartel-general do tráfico.
O império Katiara começou a se firmar, e Nazaré se transformou no centro do comércio de drogas. Com um sistema de remuneração que incentivava o transporte de entorpecentes, Roceirinho expandiu sua influência sobre cidades vizinhas: Santo Antônio de Jesus, Salinas da Margarida e até Salvador sentiram o impacto de sua ascensão. Dentro das grades, após ser preso em 2012, ele não apenas manteve suas operações, mas as estruturou com precisão cirúrgica, criando a facção Katiara. Este novo modelo de crime estabeleceu regras claras e um código de conduta que reforçava sua autoridade.
Com a criação da Katiara, o estatuto do grupo tornou-se um manifesto, excluindo qualquer forma de traição ou comportamento considerado indesejável. A marca deixada na pele de seus membros, o famoso pentagrama, simbolizava mais do que apenas lealdade, era um selo de um sistema que buscava controle e perpetuação. Enquanto a polícia tentava desmantelar seu legado, Roceirinho se tornava uma lenda nas periferias, simbolizando uma estrutura criminosa que, apesar de abatida, se mantinha viva e pulsante.
Nos anos seguintes, com a chegada de novos rivais como o BDM e o Comando Vermelho, o império Katiara enfrentou desafios significativos. Apesar de suas tentativas de expansão, a violência se intensificou e o controle sobre determinadas áreas se fragmentou. Em 2025, ao ser transferido para o semiaberto, Roceirinho viu uma faísca de esperança de liberdade, mas, com um novo mandado de prisão, percebeu que sua história estava longe de um fim.
A narrativa de Roceirinho é uma reflexão sobre a dinâmica do crime e o legado que se constrói em meio ao caos. Mesmo clamando ter abandonado o mundo do tráfico, sua imagem continua a assombrar as periferias da Bahia. O que ele plantou não foram apenas raízes de medo, mas um modelo, um sistema, uma ideia capaz de sobreviver ao tempo e às adversidades. Na complexidade do crime, como na roça, a colheita é sempre proporcional ao que se planta.
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