Mulheres alauitas estão sendo raptadas por homens na Síria

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Desnutrida e com cicatrizes visíveis, Nora observa a câmera com um olhar exausto. Em seu colo, seu bebê, de quem ela foi separada à força até pouco tempo atrás, representa tanto vulnerabilidade quanto esperança. Essa imagem, emblemática do trauma enfrentado por muitas sírias, retrata uma realidade alarmante: mulheres alauitas estão sendo sequestradas por grupos brutais na Síria, em uma onda de violência sem precedentes.

Após ser libertada de um cativeiro que durou quase um mês, Nora conseguiu apagar seus rastros e deixar o país. Durante seu período de aprisionamento, foi submetida a abusos físicos e psicológicos. Ela viajava com seu filho de onze meses rumo a um centro de ajuda humanitária, quando homens mascarados em um veículo a interceptaram. Ao identificar-se como alauita, Nora foi brutalmente arrastada para dentro do carro, com os olhos vendados.

“Fui chamada de bicho e espancada até perder a consciência”, confessou. Em cativeiro, exigiram que ela assinasse um ‘contrato de casamento’, proposta que ela recusou, pois já era casada. Essa decisão trouxe uma intensificação da brutalidade que sofria. Autoridades também usaram fotos de seus abusos para pressionar sua família por um resgate elevado, um valor que, ao ser pago, não garantiu seu retorno seguro.

A história de Nora é apenas uma entre tantas. Desde janeiro, mais de 40 mulheres alauitas desapareceram na Síria, uma situação que preocupou o ativista de direitos humanos Bassel Younus. A violência contra os alauitas, minoria religiosa à qual pertencia o deposto presidente Bashar al-Assad, está crescendo. Relatos de sequestros e agressões violentas por radicais sunitas se tornaram comuns, elevando o clima de medo e insegurança.

As mulheres alauitas estão se tornando símbolos da opressão cultural e étnica que atravessa o país. As violações de direitos humanos são documentadas por organizações, e a ONU já recebeu relatos consistentes sobre essas atrocidades. O chefe da Comissão Independente de Inquérito da ONU sobre a Síria, Paulo Sérgio Pinheiro, expressou preocupações sobre essas práticas, prometendo um relatório detalhado sobre os casos apurados.

Conversas com famílias e vítimas revelaram um padrão aterrador. Sami, por exemplo, perdeu sua irmã Iman, sequestrada enquanto viajava. O contato com os sequestradores culminou em exigências financeiras altas, um sistema opaco que dificulta a rastreabilidade do dinheiro, e, após o pagamento, Iman desapareceu sem deixar vestígios.

Maya, de 21 anos, é outra voz que ecoa a dor de muitas. Juntamente com sua irmã, foi sequestrada por homens armados e vendados. O temor de serem vendidas como “infiéis” e a possibilidade de um destino ainda mais sombrio as assombrava. Especialistas alertam que a situação delas pode se assemelhar à de mulheres yazidis, que sofreram violências horrendas nas mãos do “Estado Islâmico” em 2014, embora ainda não haja evidências concretas de que mulheres alauitas estejam enfrentando um destino semelhante.

A experiência de Maya e de tantas outras nos mostra que a afiliação religiosa está se tornando um elemento-chave na violência e na discriminação na Síria. Embora algumas mulheres alauitas tenham conseguido se libertar, o medo persiste e muitas permanecem desaparecidas. Como sociedade, precisamos nos unir em solidariedade e denunciar essas atrocidades que não podem ser ignoradas. O que você pensa sobre essa situação? Compartilhe suas reflexões conosco nos comentários.

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