‘A democratização da cultura gerou essa reação’, diz Bruno Monteiro

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ENTREVISTA – BRUNO MONTEIRO

Secretário de Cultura da Bahia comenta manifesto de artistas que criticam sua gestão e defende a interiorização dos investimentos

Por Divo Araújo

21/08/2025 – 5:00 h

Secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro

Secretário de Cultura da Bahia, Bruno Monteiro –

A descentralização dos recursos culturais na Bahia gerou intensos debates entre artistas e produtores. Em uma conversa exclusiva, Bruno Monteiro discute o manifesto assinado por cerca de 100 artistas que criticam sua gestão, destacando a importância da democratização e o reconhecimento das diversas expressões culturais.

Ele também se manifestou sobre os preconceitos que tem enfrentado desde sua nomeação, enfatizando que muitos protestos estão ligados ao redirecionamento de 70% dos investimentos para o interior e às políticas que promovem a pluralidade cultural.

Recentemente, um manifesto de cerca de 100 artistas trouxe críticas à política cultural do Estado. O que você acha desse movimento e o que acredita que o motivou?

Olha, eu sempre defendi a democracia e encaro qualquer manifestação com naturalidade. O manifesto, embora não seja recente, apresenta dados com os quais não concordo. Por exemplo, ele afirma que a Secretaria de Cultura não possui orçamento próprio, o que é incorreto. Desde que assumi, tivemos um aumento de 60% no orçamento e já investimos R$ 1,5 bilhão na cultura. O diálogo é um pilar fundamental para nós. Todas as propostas passaram por consultas públicas. Assim, é estranho dizer que não há comunicação quando temos realizado conferências e reuniões por toda a Bahia.

A questão do seu vínculo com o Sul do Brasil teve um impacto na sua gestão?

Acredito que o preconceito que enfrento é desgastante. Minha política atual é conhecida e os investimentos têm sido redistribuídos. A crítica que ouvimos vai além e reflete a territorialização dos investimentos, o que gera descontentamentos. Porém, esse processo de mudança é necessário, como foi a implementação de políticas de cotas nas universidades, que hoje são amplamente aceitas. O mesmo deve acontecer com a cultura.

O manifesto questiona a formação da sua equipe. Qual a importância de ter uma equipe qualificada e como você escolheu a sua?

Estou confiante na minha equipe, composta por profissionais com experiência e novas ideias. Essa renovação traz uma energia importante para a cultura, e precisamos entender que mudanças geracionais são essenciais para inovação.

Você tem conversado com os signatários do manifesto? Como tem sido essa troca?

Sim, estou sempre aberto ao diálogo, que é fundamental para nós. A comunicação deve acontecer não apenas em um ou dois bairros de Salvador, mas de maneira ampla, incluindo comunidades diversas de toda a Bahia. O diálogo é vital e vem ocorrendo de forma intensa.

Qual o impacto das leis como a Rouanet e a Aldir Blanc na cultura baiana?

Ao entrar em ação, esses recursos federais enfrentam desafios, como a regularização das instituições culturais nas comunidades. Por isso, oferecemos formações para capacitar esses grupos a acessar esses fundos. O resultado tem sido expressivo: com os editais da Aldir Blanc, recebemos 1.100 projetos e mais de 10 mil inscrições. Esse engajamento é um sinal de que as pessoas estão se tornando mais conscientes da sua participação cultural e da que é oferecida a elas.

A proximidade com a ministra da Cultura, Margareth Menezes, facilita a cooperação entre o Estado e o Ministério? Quais os resultados dessa parceria?

Com certeza! Desde o início, temos buscado trabalhar em conjunto, complementando esforços e recursos entre os governos estadual e federal. Isso fortalece nossas políticas, permitindo que os investimentos federais se juntem ao orçamento do Estado, impulsionando ações e reformas em equipamentos culturais, além de promover eventos que já estão consolidados.

Sobre o Teatro Castro Alves, o que a população pode esperar da reforma em andamento?

O TCA passará por uma modernização significativa. As obras são complexas, mas já avançamos bastante, incluindo a troca do telhado e a ampliação da acessibilidade. Prevemos que a estrutura esteja operacional no próximo ano, com benefícios que vão enriquecer a experiência cultural de todos.

E sobre o Solar Boa Vista, como ele se encaixa na proposta de promover a economia criativa?

Estamos pensando o Solar Boa Vista como um espaço que preserve a história e, ao mesmo tempo, promova a economia criativa. A criação do Parque de Economia Criativa vai oferecer incubação e formação para ajudar aqueles que desejam desenvolver projetos culturais na Bahia, contribuindo para o empoderamento dos trabalhadores da cultura.

A recente criação da Bahia Filmes impulsiona o setor cinematográfico. Como isso facilitará o desenvolvimento do audiovisual?

O audiovisual é uma das áreas mais promissoras dentro da economia criativa. Com a Bahia Filmes, visamos organizar e potencializar a produção local, atraindo investimentos e facilitando a finalização de projetos que podem não ter circulado adequadamente. Isso deve trazer um novo fôlego para o setor na Bahia.

Como você vê a importância do investimento de R$ 24,3 milhões em eventos culturais para o Estado?

Os eventos literários têm um papel fundamental em fomentar a economia e a cultura. O crescimento de feiras literárias na Bahia é um reflexo direto da nossa política de territorialização. Essas feiras não só promovem a literatura, mas também aquecem a economia local, criando oportunidades e gerando emprego em várias regiões.

Raio-X: Bruno Monteiro, 42 anos, é o atual secretário de Cultura da Bahia. Com experiência nas áreas de comunicação e gestão pública, ele traz uma nova perspectiva à cultura baiana. Seu trabalho inclui importantes colaborações com a cena cultural, e ele busca fortalecer e diversificar a produção cultural do Estado.

A cultura baiana está em um momento de transformação. O que você acha das mudanças propostas por Bruno Monteiro? Compartilhe suas opiniões nos comentários.

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