A jornada de repatriação de fósseis brasileiros ganhou destaque com a paleontóloga Taissa Rodrigues, professora na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). Durante suas pesquisas sobre pterossauros, ela encontrou anúncios suspeitos de fósseis à venda em um site de leilão internacional e, ao investigar, identificou um exemplar da espécie Anhanguera santanae, com cerca de 110 milhões de anos, colocando-o em alerta para o contrabando.
Em dezembro de 2023, após um longo processo envolvendo o Ministério Público Federal, 998 fósseis brasileiros foram repatriados da França para o Museu de Paleontologia Plácido Cidade Nuvens, no Ceará. Contudo, o Anhanguera e outros 45 fósseis ainda aguardam um veredito da Justiça francesa, enquanto especialistas lutam para reverter a situação.
Desde 1942, fósseis no Brasil tornaram-se patrimônio da União, o que significa que sua extração, transporte e venda exigem autorização do governo. O procurador da República Rafael Rayol, que atua na repatriação de fósseis desde 2009, afirma que a ação recente foi uma das mais emblemáticas de sua carreira. “Esse carregamento de fósseis foi contrabandeado junto a quartzo e, após muitos desafios, conseguimos trazê-los de volta”, conta.
O Ceará é uma das regiões mais cobiçadas para a coleta de fósseis no mercado internacional, devido à lucratividade e facilidade de transporte. Rodrigues destaca que, sem o acesso aos fósseis, a pesquisa científica é seriamente comprometida. “Fósseis em coleções privadas tornam quase impossível para os cientistas no Brasil trabalhar e avançar nas pesquisas”, alerta.
“Os do Araripe atingem preços maiores nesse mercado ilegal, porque são bem preservados.
Com o surgimento das redes sociais, um novo movimento por repatriação ganhou força. Um exemplo é o fóssil apelidado de Bira, pertencente à espécie Ubirajara jubatus, que foi levado para a Alemanha nos anos 90. Em 2023, após uma campanhan liderada pela pesquisadora Aline Ghilardi, Bira retornou ao Brasil, representando um marco para a conscientização sobre a luta pela repatriação.
Agora, Ghilardi se empenha em trazer de volta outro fóssil importante da Alemanha: o crânio do Irritator challengeri, igualmente considerado fundamental para a ciência. O Ministério da Ciência do estado alemão já demonstrou interesse em dialogar sobre a repatriação, embora a situação legal seja complexa e ainda exija negociação.
O processo de repatriação geralmente envolve diplomacia. Nos últimos meses, cinco casos semelhantes estão em andamento na Itália, com destacada atuação da Embaixada do Brasil. O embaixador Renato Mosca de Souza acredita que a devolução de fósseis não só beneficia a pesquisa, mas também democratiza o acesso ao conhecimento.
Além dessas ações formais, existem ainda devoluções espontâneas. Em maio do ano anterior, o Museu Nacional recebeu 1.104 fósseis do colecionador Burkhard Pohl, um gesto que simboliza a crescente conscientização e responsabilidade na preservação do nosso patrimônio científico.
O Brasil tem um longo caminho pela frente na luta pela repatriação de seus fósseis, mas a mobilização e o apoio da sociedade são fundamentais. Você já conhecia a história por trás da repatriação desses tesouros paleontológicos? Compartilhe suas opiniões nos comentários!
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