Mais de 1,6 mil residentes, pertencentes a 400 famílias no entorno do Distrito Federal, enfrentam a angustiante possibilidade de ficarem sem lar na próxima semana. O Tribunal de Justiça de Goiás (TJGO) autorizou a remoção forçada dos moradores da Antinha de Baixo, comunidade situada em Santo Antônio do Descoberto (GO), a partir de 4 de agosto.
Este conflito sobre a ocupação das terras remonta a décadas, envolvendo a família do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que reivindica heranças da área. A decisão deflagra um processo que muitos acreditam estar longe de uma resolução justa.

A juíza Ailime Virgínia Martins, da 1ª Vara Cível, determinou a desocupação compulsória, permitindo exceções apenas para 16 famílias reconhecidas como vulneráveis. O oficial de Justiça responsável pela ordem contará com suporte da Polícia Militar e outras autoridades para garantir a execução da decisão, que deverá ser realizada com a “prudência e moderação” exigida pela situação.
Histórico do Conflito
A luta pela posse das terras de Antinha de Baixo começou em 1945, quando um parente de um antigo habitante apresentou um pedido ao TJGO para regularizar sua propriedade. Décadas depois, este processo se intensificou com afirmações de herança de Luiz Soares de Araújo, Raul Alves de Andrade Coelho e Maria Paulina Boss, esposa de um tio de Ronaldo Caiado.
Maria Paulina e seu grupo obtiveram decisão favorável em 1990 para tomar posse da área, mas os moradores atuais alegam que os documentos apresentados eram falsificados. Com o passar dos anos, a desocupação prevista para 2014 foi sucessivamente adiada, até que Breno Boss Caiado, primo do governador e um dos herdeiros, assumiu o caso no TJGO.
A Voz dos Moradores
Com o peso de uma decisão que pode desestruturar suas vidas, os habitantes de Antinha de Baixo manifestam a dor e o desespero da possível perda do lar. Joaquim Moreira, com 86 anos, expressa a angústia de quem dedicou toda uma vida àquela terra: “Não tenho outra casa em lugar nenhum”.
Viviane Barros, motorista de transporte coletivo, clama por justiça: “Aqui é o nosso cantinho. O que faremos sem lugar para ir?” Essa preocupação ecoa entre muitos outros, que cultivam suas plantações e dependem da terra para viver. Vilani Oliveira, 52 anos, relata a pressão emocional que a situação gera: “Minhas noites são mal dormidas; já perdi até peso. Estamos pedindo socorro”.
“A gente entra com recurso em cima de recurso e simplesmente passam por cima, atropelam tudo. E a gente, como fica?! Com uma mão na frente e outra atrás.”
O Papel da Justiça
A luta pela permanência na Antinha de Baixo envolve não apenas as vidas dos moradores, mas também complexas questões legais. Advogados da comunidade, como Porfírio da Silva, sustentam que a legitimação da propriedade foi construída sobre documentos manipulados, e a ausência de inspeções locais por magistrados levanta dúvidas quanto à imparcialidade da justiça.
Embora a comunidade tenha buscado o reconhecimento como território quilombola, a resposta institucional ainda é incerta. O advogado Willianderson Dionísio, parte ativa na defesa da causa, acredita que esse reconhecimento poderia resultar na proteção dos direitos dos moradores.
Em resposta às críticas, o MPGO afirmou que não há espaço para contestar a decisão, enquanto o TJGO garantiu que as famílias vulneráveis receberão assistência para a relocação. No entanto, muitos ainda questionam a efetividade dessas promessas frente à urgência da situação.
As vozes dos moradores clamam para que a injustiça não prevaleça. Este é um apelo não apenas por suas casas, mas por dignidade e reconhecimento. O que você pensa sobre essa situação? Deixe seu comentário.
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