Pizza, remédio e açaí: sutis códigos de violência que chegam pelo 190

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“Olá! Gostaria de pedir uma pizza.” Uma frase que, à primeira vista, parece inofensiva, mas que esconde uma realidade angustiante, especialmente para muitas mulheres no Distrito Federal. Para elas, essa simples solicitação se torna um disfarce para um pedido de socorro.

A major Patrícia Jacques, chefe do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom/PMDF) voltado para atendimento às mulheres, revela que esses chamados têm aumentado notavelmente. “Após a divulgação de alguns casos, percebemos uma frequência maior de ligações desse tipo”, comenta.

“É algo que tomou uma proporção muito grande”, explica a major. “Estamos mais atentos, entendendo que essas solicitações podem ocultar pedidos de ajuda urgente.”

Desde o ano passado, as ligações incomuns têm revelado histórias de mulheres em situações de violência doméstica. Em setembro de 2024, uma mulher ligou para a PMDF, desesperada, fingindo precisar de uma pizza. Ela havia vivenciado três dias de terror em sua casa, sendo agredida por um parceiro. O agressor foi preso.

Três meses depois, uma mulher de 32 anos, mantida em cárcere privado, usou a mesma artimanha. Ao pedir uma pizza, conseguiu alertar a PMDF e o agressor foi detido. Em junho deste ano, outra mulher, de 33 anos, repetiu o mesmo gesto, e o marido, suspeito de suas agressões, também foi preso.

A chefe do Copom Mulher observa que não há uma codificação rígida. “Isso varia conforme o atendente. Muitas vezes, as vítimas estão apressadas e não têm o tempo necessário para dar mais detalhes”, explica. “Às vezes, conseguimos captar informações por meio de perguntas.”

“Lembro de um caso em que um atendente sugeriu que, se o agressor tivesse uma arma, a mulher pedisse um refrigerante”, recorda Patrícia. “O pedido pode variar; já recebemos até solicitações de açaí.”

Andreia Waihrich, advogada e ex-presidente da Comissão de Combate à Violência Doméstica da OAB-DF, ressalta a importância de interpretar esses pedidos como mensagens silenciosas. “Elas frequentemente vêm de mulheres ameaçadas, que não podem pedir ajuda diretamente. Reconhecer esses sinais pode salvar vidas”, alerta.

A especialista destaca ainda que, mesmo quando a vítima não consegue se expressar, a ligação ao 190 aciona protocolos de emergência, permitindo à polícia localizar rapidamente a vítima. “Na violência doméstica, cada minuto conta”, enfatiza Andreia. “Desconsiderar um sinal pode significar perder uma segunda chance.”

Ela deixa um conselho: “Sempre que possível, utilize dispositivos seguros e não monitorados. Guarde números de emergência em locais acessíveis e combine encontros seguros com pessoas de confiança.”

Se você ou alguém que conhece está em uma situação de violência, não hesite em agir. O que pode parecer um simples pedido pode ser a chave para libertar alguém de um ciclo de dor. Compartilhe sua experiência; sua voz pode ser o apoio que alguém precisa.

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