CRÔNICA
Quem cuida de quem cuida? Uma história comovente em um portão de embarque
Por Franklin Carvalho
03/08/2025 – 4:00 h

Confira a Crônica deste domingo –
Era um dia comum no aeroporto, quando minha atenção foi capturada por duas mulheres: uma idosa, magra e frágil, e sua filha, por volta dos 60 anos. Ambas estavam numa corrida frenética, suadas e sobrecarregadas de malas, como se fugissem de um incêndio.
Ao me aproximar, percebi que a mulher mais velha segurava uma mala enorme contra o peito. Sua filha, que havia passado por uma cirurgia recentemente, não podia carregá-la, e a situação era desoladora. O portão de embarque fora mudado, e elas estavam perdidas. A falta de experiência com essas complicações aeroportuárias era evidente.
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Foi então que uma funcionária da companhia aérea, de forma solícita, interveio. O alívio nos rostos da filha e da mãe ficou gravado em minha memória, como um lembrete de que, muitas vezes, a força do amor supera qualquer desafio.
Como alguém que cresceu no interior, tenho o hábito de observar aqueles que parecem deslocados em ambientes agitados. A modernidade tem sua forma de padronizar o comportamento humano, mas os olhos ainda podem estranhar a frieza do cotidiano, nos lembrando que nossa essência supera a inteligência artificial.
As filas nos supermercados aos domingos também me fazem refletir. Observando carrinhos transbordantes, frequentemente imagino que essas pessoas estão estocando alimentos para um banquete prolongado. Porém, busco uma visão mais realista, percebendo que muitos provavelmente têm famílias grandes e a despesa irá desaparecer rapidamente.
Isso me leva à pergunta: onde estão os outros membros dessa família? Trabalhando, talvez, ou absorvidos nas aulas dominicais? Por que tantas vezes vejo apenas idosos encarregados dessa tarefa?
Enquanto isso, nas ruas, crianças pequenas, sujas e sem camisas, estão grudadas em celulares. É preocupante ver que até aquelas que deveriam brincar estão tão distantes da inocência de sua idade, ;ortando para a tela em vez de explorar o mundo ao seu redor.
Por outro lado, meu saldo bancário cresce a um ponto que se torna difícil de gerenciar. Diariamente, recebo chamadas sobre transferências e pagamentos, que me fazem duvidar da segurança financeira que, em teoria, deveria ser garantida. Há uma estranha relação entre consumidores e instituições financeiras, onde um engrena no problema do outro.
Para encarar os absurdos cotidianos, ironia se torna uma ferramenta necessária. Não basta apenas ver; nossos olhos devem sorrir diante das ironias e desafios que nos cercam.
*Franklin Carvalho é autor de Tesserato – A tempestade a caminho (Ed. Noir)
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