Ela aprendeu a nadar aos 64: por que começar mais tarde pode ser uma vantagem

A professora de inglês Conceição Rodrigues, de 64 anos, decidiu aprender a nadar em uma academia no bairro da Pituba, em Salvador. O que muitos começam na infância, ela só resolveu fazer depois dos 50. “Foi um processo”, afirma. Conceição se juntou a outros baianos que, já na fase adulta, decidiram enfrentar o medo ou vergonha e adquirir novas habilidades.

A decisão de Conceição foi inesperada. A mudança na grade da academia, onde ela praticava hidroginástica, deixou apenas as aulas de natação no horário que conseguia treinar. “Eu tive que me jogar”, relembra, confessando que sempre teve receio da água devido a um trauma na infância.

Durante um acampamento quando era escoteira, ela viveu uma situação difícil. “Na água, fizemos uma cordinha com as mãos, mas uma onda forte bateu e a corrente humana se partiu”, recorda. A partir daquele momento, ela apenas pulava as sete ondas em cada virada de ano.

O funcionário público Oto Juan, de 33 anos, também decidiu aprender algo novo: dirigir. Ele obteve sua carteira de habilitação há apenas dois meses, mas sentia que a falta de autonomia estava pesando. “Saber dirigir poderia me economizar tempo, um bem precioso nos dias de hoje”, admite.

Apesar de não considerar a direção como prioridade antes, a pressão social fez diferença. “Se espera que nós, homens, já saibamos dirigir quando atingimos certa idade”, diz. As aulas iniciais trouxeram desconforto, mas com o tempo, ele percebeu que a maturidade trazia vantagens, como lidar melhor com o trânsito e a impaciência dos outros motoristas.

Encarando limites

Para Conceição, ser a mais velha da turma de natação não é constrangedor. Ela acredita que aprender a nadar é mais sobre encarar limites. “Superar o medo foi o primeiro passo”, reflete. A professora criou um ritual para se manter motivada: anotar a distância percorrida em cada aula e transformar o desempenho dos outros alunos em metas pessoais. “Vai demorar mais tempo do que para os mais jovens, mas cada um tem seu ritmo”, considera.

O professor Edvan Cruz, de 47 anos, observou a demanda por aprendizado entre adultos. Ele tem ensinado mais de 1.500 alunos de bicicleta durante os últimos dez anos em Salvador, com 90% deles entre 40 e 80 anos. “Muitos não aprenderam antes por falta de tempo, responsabilidades precoces ou restrições de gênero”, explica.

Edvan ensina que os adultos chegam com medos e inseguranças, enquanto crianças são mais destemidas. Com paciência, trabalha a confiança e o equilíbrio antes de abordar técnicas mais avançadas. Uma de suas alunas, Iracema Leal, de 65 anos, experimentou uma mudança de vida ao aprender a andar de bicicleta. “Me libertei”, afirma, refletindo sobre como superou seu medo com a ajuda do professor.

Coragem

O primeiro dia de Oto ao dirigir sozinho trouxe uma mistura de sentimentos. “Era medo, mas também emoção”, conta. Embora ele pense que aprender mais cedo poderia ter sido mais fácil, hoje entende seu processo. “Se eu pudesse voltar no tempo, teria aprendido a dirigir mais cedo”, diz.

Joselina do Amparo, de 54 anos, fez sua própria jornada inspiradora. Depois de deixar a escola aos 19 anos para trabalhar como empregada doméstica, ela nunca perdeu o desejo de aprender. Em 2008, aos 37, matriculou-se no programa de Educação de Jovens e Adultos e, após cinco anos, concluiu o ensino fundamental e médio com destaque.

O apoio de seus patrões foi fundamental. Com ajuda, ela decidiu prestar vestibular e foi aprovada em Nutrição e Direito, escolhendo este último. Formou-se na Universidade Católica de Salvador e, em 2017, foi aprovada na OAB. Hoje, com orgulho, diz que seu trabalho anterior a sustentou e a trouxe até aqui.

Joselina acredita que aprender na maturidade é um ato de coragem. “Se eu pudesse voltar no tempo, teria estudado antes. Mas aprendi que cada um tem seu ritmo”, reflete. Ela deixa uma mensagem importante para quem quer aprender: “Você já é alguém na vida. Estude e aprenda para se superar a cada dia.”