A Corregedoria da Polícia Civil de São Paulo iniciou uma investigação sobre a doação de equipamentos para o centro de treinamento (CT) de artes marciais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).
De acordo com informações do Metrópoles, o empresário Gabriel Cepeda, acusado de lavar dinheiro para o Primeiro Comando da Capital (PCC), foi apontado como responsável pela doação. Ele é proprietário da rede de postos de combustíveis Boxter e foi alvo da Operação Carbono Oculto, realizada pelo Ministério Público de São Paulo em 28 de agosto.
Na última sexta-feira, após manter o nome do doador em sigilo, a Polícia Civil divulgou um termo de doação no Diário Oficial, identificando a empresa que financiou o CT como a C2 Gestão de Patrimônio, registrada em nome de Felipe Francelino, um pintor de 34 anos que enfrenta uma ordem de despejo por ocupar um terreno irregular em Ubatuba. Felipe alegou não ter condições financeiras para cobrir os custos judiciais.
A Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou que a Corregedoria analisará a documentação para verificar o cumprimento da Lei Orgânica da Polícia Civil e a legislação vigente.
A identificação da empresa doadora ocorreu dias após a SSP se recusar a fornecer informações solicitadas pela Lei de Acesso à Informação (LAI) feita pelo Metrópoles. Na resposta, a pasta argumentou que a informação era preliminar, pois o processo sobre a construção do CT ainda estava em andamento.
Recentemente, a SSP confirmou que a academia está pronta para ser inaugurada e já foi utilizada de forma experimental. O local chegou a ser promovido nas redes sociais por um influenciador que intermediou a doação, mas a pasta nega que Gabriel Cepeda tenha contribuído financeiramente para a obra.
“Amigo Cepeda”
A associação de Gabriel Cepeda à construção do CT foi destacada nas redes sociais por Matheus Serafim, um influenciador e ex-lutador de MMA. Em agosto, dias antes da Operação Carbono Oculto, a dupla se encontrou com o diretor do Deic, Ronaldo Sayeg, e Serafim publicou uma foto no Instagram agradecendo a Cepeda pela construção da academia.
Após a operação, a postagem foi removida, mas o link ainda está disponível no Google, permitindo que o Metrópoles acessasse o conteúdo original. Quando questionado, Serafim negou que Cepeda tenha financiado a doação, afirmando que a postagem foi uma tentativa de “dar uma moral” ao amigo.
C2 Gestão de Patrimônio
A C2 Gestão de Patrimônio Ltda foi registrada na Junta Comercial de São Paulo (Jucesp) em nome de Felipe Francelino da Silva Alves, que alegou ser um pintor sem condição financeira para arcar com custas processuais, embora sua empresa tenha um patrimônio milionário de R$ 1,6 milhão. Felipe alegou que não declara imposto de renda porque sua renda mensal está abaixo do valor mínimo estipulado pela Receita Federal.
Declarações do Diretor do Deic
Em entrevista, Ronaldo Sayeg confirmou que conversou com Felipe e um representante da C2, mas não revelou detalhes da aproximação. Ele disse que a empresa havia se oferecido para a doação, que foi realizada em etapas e culminou na publicação no Diário Oficial.
Boxter e PCC
A relação entre a rede Boxter e o PCC foi apontada pela primeira vez na Operação Rei do Crime, realizada pela Polícia Federal em 2020, que resultou na prisão do pai de Gabriel, Natalício Gonçalves Filho, e de seu irmão, Renan Cepeda. Durante a Operação Carbono Oculto, os promotores do Gaeco afirmaram que Renan é uma figura chave na organização criminosa e mantém sua influência na rede Boxter por meio de Gabriel.
Gabriel Cepeda também teria transferido a titularidade de postos de combustíveis para um laranja, Luiz Felipe do Valle, que controla 61 postos e não declarou vendas à Receita Federal. Ambos os irmãos foram alvo de mandados de busca e apreensão em um apartamento na Vila Maria, onde mais de 150 mandados foram cumpridos.
As investigações sobre a rede de lavagem de dinheiro do PCC também abrangem fintechs que oferecem contas protegidas contra bloqueios judiciais e uma cadeia de fundos de investimento que visam esconder a identidade dos beneficiários dos empreendimentos.

Facebook Comments