A malha aérea brasileira encolheu. De acordo com o Relatório de Oferta e Demanda da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), em julho de 2025, apenas 137 aeroportos tiveram operações comerciais. Em comparação, 155 aeroportos registraram operações no mesmo mês do ano anterior e 162 em 2023. Essa queda representa um recuo superior a 15% em dois anos, mesmo com o recorde de transporte de passageiros, que atingiu 11,6 milhões em julho — o maior volume já registrado.
A redução não é apenas resultado de fatores sazonais. O advogado Rodrigo Alvim, especialista em direito do passageiro aéreo, explica que as companhias enfrentam sérias dificuldades estruturais. “Reduzir a malha aérea significa que algumas empresas deixam de atender trechos que não são rentáveis, levando a voos vazios. Além disso, 60% dos custos das companhias estão atrelados ao dólar, desde o combustível até contratos de leasing. Elas ganham em real, mas precisam gastar em dólar, o que é ainda mais complicado com o aumento do IOF”, detalha.
Rotas e bases que saíram do mapa
Nos últimos dois anos, a malha aérea sofreu especialmente alterações pela Azul, que em 2025 encerrou operações em 14 cidades, a maioria no interior do país, onde era a única operadora. Esse corte, realizado entre janeiro e março, resultou na descontinuação de mais de 50 rotas, numa estratégia para concentrar voos em hubs mais lucrativos e reduzir custos, especialmente durante a recuperação judicial da companhia.
Outras companhias também realizaram cortes, sendo que a LATAM suspendeu rotas como Rio de Janeiro (Galeão) – Natal e São Luís – Teresina a partir de março de 2025, alegando “necessidades comerciais”. Além disso, ajustes sazonais têm afetado a malha em diversas regiões, diminuindo a conectividade em trechos considerados menos rentáveis.
Quem mais sofre
Segundo Alvim, os maiores prejudicados são os moradores de cidades menores, especialmente no Norte e no Nordeste. “O interior é o mais vulnerável. Com a perda de rotas, a população depende de barco, ônibus ou de longos deslocamentos até outros aeroportos. As populações mais pobres acabam se isolando”, afirma.
Campos dos Goytacazes, no Rio de Janeiro, e Ponta Grossa, no Paraná, são exemplos de cidades que perderam os voos comerciais em 2025, ambos operados pela Azul.
Impacto social e econômico
O isolamento aéreo afeta mais do que a mobilidade. Em cidades sem conexão aérea, turismo e negócios locais sofrem uma queda imediata. Isso dificulta a chegada de investidores e turistas, além de encarecer as passagens nos trechos que ainda operam. Esse cenário limita o acesso da classe média e das camadas mais populares ao transporte aéreo, essencial em um país de dimensões continentais como o Brasil.
Especialistas destacam a importância da aviação regional para a integração nacional. Quando as rotas desaparecem, setores como saúde, educação e segurança pública passam a ser afetados, pois emergências muitas vezes dependem do transporte aéreo. Alvim enfatiza que o problema não afeta apenas o consumidor individual, mas toda a dinâmica social das regiões impactadas.
Direitos do passageiro
Apesar da lógica do mercado, as companhias têm limites. “Elas não podem vender passagens e, após o cancelamento da rota, deixar o passageiro sem suporte. O ideal é que ofereçam reacomodação em outro voo, em outra empresa ou até reembolso total”, diz Alvim.
O que fazer se o voo for cancelado
O especialista orienta um passo a passo:
- Realizar contato imediato com a companhia, de preferência por telefone, registrando protocolos ou gravando a ligação;
- Se não houver solução, registrar reclamação no Consumidor.gov.br, uma plataforma governamental;
- Se o problema persistir, procurar o Procon ou um advogado de confiança, podendo recorrer à Justiça.
O que diz o governo
O Ministério de Portos e Aeroportos informou que está trabalhando em medidas para reduzir custos operacionais e estimular a aviação regional. Entre as ações estão a criação de alíquotas diferenciadas para a aviação regional na Reforma Tributária e a oferta de R$ 4 bilhões em linhas de crédito do Fundo Nacional de Aviação Civil (FNAC), que incluem contrapartidas para ampliar rotas na Amazônia Legal e no Nordeste.
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