A empresa portuguesa Mota-Engil venceu, na última sexta-feira (5), o leilão para construir e operar o primeiro túnel imerso do Brasil, que conectará Santos a Guarujá no litoral de São Paulo. O evento foi realizado na sede da B3 em São Paulo, e a Mota-Engil superou a concorrente espanhola Acciona ao oferecer uma contraprestação pública anual de R$ 436,10 milhões, que representa um desconto de 0,5% em relação ao valor máximo estipulado no edital, de R$ 438,30 milhões. A Acciona não fez nenhuma proposta de desconto.

Este projeto é considerado a principal iniciativa do novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O investimento total é estimado em R$ 6,8 bilhões, com R$ 5,14 bilhões financiados pelos governos federal e paulista e R$ 1,66 bilhão proveniente da concessionária. A empresa terá o direito de arrecadar as tarifas de pedágio, que serão de R$ 6,15 para carros, R$ 3,07 para motos e R$ 18,35 para ônibus e caminhões. Após os 30 anos de concessão, a gestão do túnel passará para a Autoridade Portuária de Santos.

As obras devem começar em 2026 e têm previsão de término em 2030. O túnel terá cerca de 1,5 km de extensão, com 870 metros submersos, e contará com três faixas em cada sentido, permitindo o tráfego de carros, ônibus, caminhões, bicicletas e pedestres. O objetivo é oferecer uma alternativa mais rápida e segura às balsas, que atualmente transportam cerca de 78 mil pessoas diariamente entre as duas cidades.

O processo licitatório foi adiado de agosto para setembro a pedido de empresas estrangeiras interessadas. O ministro do TCU, Bruno Dantas, atuou como mediador entre o governo federal, o governo paulista e a Autoridade Portuária para resolver impasses. O Ministério Público tentou cancelar a licitação, alegando favorecimento a concorrentes estrangeiros, mas a solicitação foi recusada. Além disso, o BNDES afirmou não ter recebido pedidos de financiamento para o projeto e construtoras brasileiras como Odebrecht e Andrade Gutierrez desistiram de participar devido a dificuldades em obter crédito.

Apesar do financiamento compartilhado, o governo paulista lidera o projeto, o que trouxe um contexto político à obra. Durante o anúncio do edital em fevereiro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) elogiavam o trabalho conjunto, mas, desde então, ambos têm se critificado publicamente.

Nesta sexta-feira, Lula não esteve presente no leilão, sendo representado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Com a assinatura do contrato, a concessão poderá iniciar os preparativos para a construção do dique seco, dando início a uma obra planejada há quase um século. Essa iniciativa promete revolucionar a mobilidade na região e facilitar o acesso ao maior porto do país.