Os “salvadores da pátria e o estado-espetáculo (Gaudêncio Torquato) 

O que Milei, Lula, o ex-ditador de Uganda, Idi Amin Dada, e o ditador espanhol Francisco Franco têm em comum? Os quatro se viam como enviados de Deus para “salvar” seus países. Essa afirmação traz à tona um fenômeno atual: o uso crescente do nome de Deus na política, especialmente em tempos de crise.

Javier Milei, atual presidente da Argentina, é um exemplo. Conhecido por suas ideias ultraliberais, ele também mostra um lado místico, cercado por pets clonados e com uma irmã como figura central em seu projeto. Enquanto promete refundar a Argentina, Milei usa uma retórica quase religiosa, apresentada como uma luta contra o Estado e a favor da liberdade individual.

Assim como Milei, Lula se considera um homem providencial em busca de um quarto mandato. O ex-presidente frequentemente se compara a Deus, citando que sua presença tem a missão de resolver crises históricas no Nordeste, por exemplo. Sua narrativa é a de um líder capaz de redimir o Brasil das forças do autoritarismo e do neoliberalismo — um lugar onde Milei também se destaca.

A identidade ideológica de Lula tem sido discutida dentro do seu próprio partido. José Dirceu, um dos fundadores do PT, afirma que o governo atual caminha para a centro-direita, ao contrário do que se esperava no início de sua carreira política. Essa mudança gera debates acalorados entre os petistas, que veem o governo de Lula de forma diferente agora.

Idi Amin, o terceiro “enviado de Deus”, mantinha a crença de que conversava com Deus em seus sonhos, enquanto liderava um regime repleto de violência, responsável por assassinatos em massa. Por outro lado, Franco se utilizava de afirmações divinas para sustentar seu governo, colocando nas moedas mensagens que enfatizavam seu papel como “Caudilho da Espanha pela graça de Deus”.

A utilização da linguagem popular é uma característica comum entre esses líderes, exaltando-se como salvadores em momentos de crise. Segundo o sociólogo Roger-Gerard Schwartzenberg, a política atual se transformou em uma verdadeira dramaturgia, onde governantes se tornam atores em cena aberta, e a narrativa política precisa ser emocionante para capturar a atenção da plateia.

Seja no Brasil, com Getúlio Vargas, ou na Argentina, com Perón, a figura do “salvador da pátria” ressurge, criando um espetáculo que encanta, mas que pode desmoronar facilmente quando as luzes se apagam.

Nesta mistura de messianismo e desempenho público, é interessante observar como os dois líderes, Lula e Milei, utilizam suas narrativas para moldar suas realidades políticas em meio a crises diferentes, mas igualmente desafiadoras.

E você, o que pensa sobre esses “salvadores da pátria”? Como acredita que essa influência religiosa na política impacta o futuro de seus países?

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