PCC: mortes brutais revelam nova fase da guerra da cocaína na Bolívia

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Em uma manhã de agosto, três corpos foram encontrados embalados em sacos plásticos na cozinha de uma casa alugada no bairro Petrolero Norte, em Santa Cruz de la Sierra, Bolívia. As vítimas, Dejanco Lazarevski, de 43 anos, da Macedônia do Norte; Miljan Gjekic, de 38 anos, da Sérvia; e Vanja Milosevic, de 41 anos, também sérvio, haviam sido torturadas antes de serem executadas com tiros na cabeça.

A princípio, parecia ser mais um ajuste de contas entre criminosos, mas esses assassinatos indicam um cenário muito mais complexo. Revelam uma intensa disputa pelo controle do narcotráfico na Bolívia, envolvendo facções da máfia dos Balcãs e o império criminoso do traficante Sebastian Marset.

O triplo homicídio ocorrido em 13 de agosto não é um caso isolado. Ele marca o auge de uma transformação que vem ocorrendo há anos na Bolívia, que se tornou não apenas um produtor, mas o centro de uma rede internacional de narcotráfico, conectando a América do Sul à Europa. Essa teia de crimes tem suas raízes em alianças formadas nas prisões brasileiras, e desenvolvidas em campos de futebol bolivianos.

A história da aliança entre Sebastian Marset e o Primeiro Comando da Capital (PCC) começou nas celas superlotadas da prisão Libertad, no Uruguai. Marset, condenado por tráfico de drogas, não apenas sobreviveu, mas prosperou durante sua pena.

A prisão Libertad é considerada uma das mais violentas da América do Sul. Foi nesse ambiente hostil que Marset, um jovem traficante, fez contatos com membros do PCC que buscavam expandir sua influência. O PCC, originado nas prisões de São Paulo, havia se tornado uma organização transnacional com ramificações em toda a América do Sul, e recrutava talentos locais.

Marset se destacou. Inteligente e ambicioso, ele rapidamente chamou a atenção da facção. Durante seu tempo na prisão, aprendeu os códigos do PCC e estabeleceu contatos essenciais para sua futura ascensão no tráfico de drogas. A aproximação, porém, exigiu que ele provasse sua lealdade, realizando serviços que colocavam sua competência e confiabilidade à prova.

Ao ser libertado em 2018, Marset não era mais o mesmo jovem de antes. Ele se transformou em um operador internacional com conexões diretas ao PCC e uma mentalidade de negócios que via o crime como uma operação global estratégica.

Coração da cocaína

Após sua libertação, Marset fez sua primeira viagem à Bolívia em agosto de 2018. O país andino, então o terceiro maior produtor de cocaína do mundo, oferecia vastas oportunidades para aqueles que possuíam as conexões certas.

Santa Cruz de la Sierra, a capital econômica da Bolívia, tornou-se rapidamente o centro das operações de Marset. A cidade proporcionou vantagens logísticas, como a proximidade com áreas de cultivo de coca e acesso a rotas terrestres para o Brasil e Paraguai.

Tradicionalmente, o tráfico de cocaína na Bolívia seguia rotas já estabelecidas. Contudo, Marset e o PCC inovaram, controlando todo o processo, desde a compra da pasta base até a distribuição final nos mercados europeus. Isso incluía sofisticados esquemas de lavagem de dinheiro e corrupção institucional.

Marset criou uma rede de empresas legítimas em Santa Cruz para ocultar suas atividades criminosas. Esses negócios serviam para lavar o dinheiro do narcotráfico e lhe permitiam circular entre a elite local.

O modelo operacional era complexo. Pequenas aeronaves transportavam cocaína refinada de laboratórios clandestinos para o Paraguai, onde a droga era escondida em carregamentos de produtos agrícolas. Daí, os contêineres seguiam para os portos do Atlântico Sul, onde parceiros do PCC e da ‘Ndrangheta italiana assumiam a distribuição na Europa. Investigadores apontam que essa rede chegou a movimentar mais de 16 toneladas de cocaína pura, gerando lucros estimados em centenas de milhões de dólares.

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