O brasiliense não dá bom-dia. Por que será? Tenho alguns palpites

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Um encontro curioso na academia me fez refletir sobre algo que muitas pessoas sentem em Brasília. Minha colega sorriu e me cumprimentou. Surpresa, olhei ao meu redor, pensando que era para outra pessoa. Ela me tranquilizou, dizendo que aqui em Brasília, ninguém cumprimenta ninguém, comparando a frieza da cidade ao clima seco.

Depois de anos fora de Brasília, voltei a cidades como Manaus, Belém e até o Rio de Janeiro. Em cada uma delas, o bom-dia flui naturalmente. Do elevador à padaria, é como um gesto automático – tão natural quanto as formigas entrando e saindo de seu formigueiro.

Os antigos candangos de Brasília lembram com saudade a cordialidade que reinava na cidade durante sua construção. Uma época em que o espírito de união mantinha todo mundo motivado, mesmo em meio a longas jornadas de trabalho. Era uma Brasília cheia de vida, num momento histórico que, segundo um visitante francês, representava uma “loucura santa”.

Nos anos dourados, o Brasil estampava alegria e esperança no futuro. Com uma economia em crescimento, as pessoas estavam radiantes. No início, a cidade, com menos de 100 mil habitantes, era uma ilha de sonho, onde o bom-dia era comum e todos se ajudavam.

Porém, com o tempo, mudanças políticas e sociais alteraram a atmosfera de Brasília. A cidade se tornou mais isolada e, em muitos aspectos, distópica, em contraste com o espírito acolhedor que a havia criado. O bom-dia desapareceu, especialmente em áreas mais ricas.

Brasília, embora tenha uma das menores taxas de criminalidade do Brasil, é marcada por uma desigualdade extrema e segregação social. A diferença de renda entre as regiões é alarmante, e isso impacta diretamente nas interações sociais.

Cidades como Rio, Recife e Salvador têm suas desigualdades, mas as pessoas ainda sorriem umas para as outras. Essa troca de bom-dias faz parte da vida urbana, ajudando a suavizar os desafios do dia a dia.

Com isso, tenho algumas teorias sobre a falta de cumprimentos em Brasília. A cidade, com seu traço monumental e a segregação social, intimidam os moradores. Esse contexto pode ter contribuído para a saída do bom-dia deste espaço.

Fica a pergunta: quando será que o bom-dia voltará? Será que ainda há esperança para essa saudação tão simples, mas que faz tanta falta?

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