A investigação da Polícia Federal (PF) sobre a maior fraude em concursos públicos do Brasil revelou detalhes surpreendentes. O auditor fiscal “aprovado”, Valmir Limeira de Souza, de 53 anos, não sabia como escrever um recurso de prova. Essa tarefa ficava a cargo de seu irmão, Wanderlan Limeira de Sousa, que usava o ChatGPT, a inteligência artificial da OpenAI, para redigir as contestações das questões que ele mesmo havia fraudado.
As mensagens recuperadas do celular de Valmir, apreendido durante a Operação Escolha Errada, mostraram que ele não entendia a função dos recursos. Em vez de apontar erros da banca, os recursos serviam apenas para “aumentar a nota”.
“Causa estranheza uma pessoa ser aprovada no concurso para auditor fiscal do trabalho e não saber, nem sequer, fazer um recurso de questões desse próprio certame em que foi aprovado”, observou a PF, analisando o conteúdo do aparelho.
Gabarito
Valmir teve um gabarito idêntico ao de outros três candidatos: seu irmão Wanderlan, Ariosvaldo Lucena de Sousa Júnior e Larissa de Oliveira Neves, sua sobrinha. A PF calcula que a probabilidade de coincidência é extremamente baixa, equivalente a ganhar na Mega-Sena 18 vezes seguidas.
As mensagens indicam que o gabarito era enviado por Wanderlan antes da prova, e Valmir simplesmente copiava as respostas, sem qualquer conhecimento técnico.
Graças a essa fraude, Valmir foi colocado entre os aprovados para o cargo de auditor fiscal do trabalho, que tem um salário inicial de R$ 22,9 mil.
O Recurso
Como Valmir não conseguia redigir um texto técnico, pediu ajuda a Wanderlan. O irmão então utilizava o ChatGPT para criar textos de recursos prontos, reescrevendo materiais antigos e enviando-os pelo celular.
“Wanderlan, utilizando uma Inteligência Artificial (IA), solicita que seja reescrito algum texto de recurso que ele anteriormente tenha feito e o envia para Valmir, dizendo para ele utilizá-lo”, descreve o relatório da PF.
Valmir simplesmente copiava os textos, sem saber o que realmente estava enviando à banca. Apesar de ser “aprovado” no concurso, ele foi reprovado na etapa presencial obrigatória de formação.
Dinastia da Fraude
A fraude se tornou um negócio de família. Valmir é irmão de Wanderlan e tio de Larissa, outra candidata beneficiada pelo esquema. O grupo, oriundo de Patos (PB), criou uma rede de manipulação de concursos. Wanderlan, ex-policial militar com antecedentes criminais, transformou o crime em uma empreitada lucrativa, cobrando até R$ 400 mil por aprovação.
Ele controlava cada aspecto do esquema: inscrições, envio de gabaritos, instruções e, agora, os textos dos recursos, todos trabalhados com uma ferramenta de IA.
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