Como os origamis ajudam a entender proteínas que causam Alzheimer

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A forma e a função estão profundamente interligadas, tanto em objetos do dia a dia quanto na biologia. Ao visualizar formas, conseguimos entender melhor as funções de estruturas complexas, como as moléculas que formam nosso corpo. Essa visualização é crucial, e não só através de computadores, mas também com maquetes e esculturas, que proporcionam uma experiência sensorial que enriquece o aprendizado. Nesse contexto, o origami surge como uma ferramenta poderosa.

Sou professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro e atuo na área de estrutura e função de proteínas há três décadas, com foco em doenças metabólicas e degenerativas. Minha paixão pelo origami me levou a investigar como estruturas moleculares se relacionam com a arte e o ensino.

Nos meus tempos de estudante, eu não tinha acesso a modelos de moléculas, então improvisava com materiais simples para entender suas formas tridimensionais. Essa experiência me mostrou a importância da visualização na aprendizagem científica. Mais tarde, ao trabalhar com a estrutura de proteínas, a fusão entre arte e ciência se transformou em pesquisa prática, levando à criação de um modelo em origami que ilustra o dobramento das proteínas amiloides.

Da bancada ao papel dobrado

Historicamente, modelos visuais têm sido fundamentais em grandes descobertas científicas. Desde a estrutura do DNA até a elucidação de proteínas globulares, essas representações foram essenciais, rendendo Prêmios Nobel a importantes pesquisadores. A ciência precisa da arte para se comunicar, tanto com seus pares quanto com o público. A função das proteínas, incluindo as que compõem nosso corpo, é diretamente determinada por suas formas, e a compreensão dessas estruturas é frequentemente complicada.

Embora a ciência utilize diversas representações, incluindo modelos físicos e digitais, muitas estruturas complexas ainda resistem a uma compreensão clara. Há uma constante busca por recursos didáticos simples, acessíveis e de baixo custo. O origami oferece uma solução prática, permitindo manipular uma folha de papel para visualizar como as cadeias de proteínas se organizam.

O dobramento peculiar do amiloide

As proteínas são essenciais à vida, mas podem ser prejudiciais, como observado em doenças como Alzheimer e Parkinson. Em certas condições, essas proteínas se organizam em padrões chamados amiloides, que se acumulam em tecidos e estão associados a processos degenerativos. A estrutura dessas fibras amiloides é fascinante, com uma organização altamente estável. Compreender essa lógica é um desafio, mas o origami oferece um caminho único para facilitar esse aprendizado.

Como funciona o modelo amiloide em origami

Para simplificar a compreensão do amiloide, criei modelos em papel que podem ser facilmente dobrados. Cada folha representa uma típica forma de proteína conhecida como “folha beta”, composta de fitas paralelas. As dobras feitas no papel demonstram como essas proteínas se organizam em uma sanfona, representando o dobramento amiloide.

Esse modelo é uma representação prática que ajuda os estudantes a visualizar a complexidade das interações que conferem estabilidade às fibras amiloides. É possível aumentar a complexidade do modelo, utilizando mais folhas ou ajustando o tamanho do papel para representar proteínas maiores. Além disso, esses modelos podem ser integrados em atividades educativas, promovendo uma experiência interativa de aprendizado.

Um recurso didático e artístico

Modelos como os de origami são ótimas maneiras de expressar conceitos científicos. Eles não substituem a complexidade das estruturas reais, mas oferecem uma forma compreensível e interativa de aproximação. Apesar das técnicas avançadas disponíveis para estudar proteínas, a simplicidade e a acessibilidade dos modelos de origami criam uma conexão entre a ciência e a sociedade.

Esses modelos são úteis em diversas etapas de ensino e podem ser realizados com papel comum, permitindo que estudantes manipulem e explorem estruturas que antes conheciam apenas por meio de livros ou vídeos. Com isso, espero contribuir para a compreensão da forma das proteínas, tornando esse conhecimento mais tangível.

E você, o que acha dessa abordagem que combina arte e ciência? Já conhecia a relação entre origami e biologia? Compartilhe suas impressões nos comentários!

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