Três Graças: ônibus da novela são reais, mas têm trajetos diferentes

As linhas de ônibus mostradas na novela “Três Graças”, que tem como protagonista Gerluce, interpretada por Sophie Charlotte, realmente existem em São Paulo. Elas transportam cerca de 16 mil passageiros por dia. Contudo, os trajetos da novela não condizem com a realidade.

A produção alterou os percursos para destacar locais famosos da cidade, proporcionando uma experiência visual para o público. Afinal, em um universo ficcional, é possível até fazer personagens impossíveis retornarem à vida.

O principal trajeto que Gerluce utiliza é a Linha 805L-10. No entanto, contrariamente às cenas exibidas, esse ônibus não passa pelo Terminal Bandeira, no centro. Ele faz o percurso entre Aclimação e o Terminal Princesa Isabel, que, em tempos passados, abrigava muitos usuários de crack.

Uma parte significativa do trajeto, em direção à Aclimação, mais próxima do Terminal, passa pelo Viaduto Jacareí. A vista vibrante da Praça da Bandeira, com o movimento intenso de pessoas e veículos, provavelmente foi um local escolhido por sua estética única.

O ônibus também para no Viaduto Mie Ken, na Rua da Glória, enquanto, na real, passa cerca de 100 metros abaixo, no Viaduto Shuhei Uetsuka. Esse tipo de deturpação reflete o desejo de criar um ambiente que chame a atenção do público.

A volta do trajeto, também, foge do parâmetro real, sendo retratada como uma corrida pela Avenida Paulista. Essa linha, a 805L-10, carrega quase 4.000 passageiros diariamente.

Pirituba, não Brasilândia

Gerluce também faz uso da Linha 8400-10, que vai do Terminal Pirituba até a Praça Ramos. Em várias cenas, um microônibus representa essa viagem pelas ruas estreitas da Brasilândia fictícia. No entanto, na realidade, essa linha utiliza ônibus maiores, que transportam 12 mil passageiros por dia.

Além disso, a 8400-10 não passa pela Comunidade do Iraque, um dos locais retratados na novela. O trajeto real fica a cerca de três quilômetros de distância.

Durante o pico da manhã, uma viagem leva, em média, 83 minutos, enquanto na parte da tarde o tempo fica em 82 minutos.

Ao embarcar ou descer do ônibus em frente ao Theatro Municipal, Gerluce, assim como muitos moradores, enfrentaria o mau cheiro e a sujeira nas redondezas, já que o espaço, em alguns momentos, se transforma em um banheiro público a céu aberto.

Desafios no transporte

As dificuldades que Gerluce enfrenta no transporte público poderiam ser reduzidas se a construção da Linha 6-Laranja do metrô não se arrastasse por tanto tempo. O projeto foi anunciado em 2008, prometendo entrega em 2012, mas ainda continua em obras.

Quando finalmente concluída, essa linha deve encurtar a viagem de uma hora e meia entre Brasilândia e a Estação São Joaquim para apenas 23 minutos, com previsão de operação para 2027 e um público estimado de 630 mil usuários por dia.

Ao chegar à Estação São Joaquim, Gerluce poderia fazer uma baldeação na Linha 1-Azul e desembarcar na parada seguinte, a Vergueiro. Com isso, teria que caminhar cerca de um quilômetro até seu trabalho, próximo à Rua Safira.