O Supremo Tribunal da Malásia tomou uma decisão significativa na última quarta-feira, responsabilizando o governo e a polícia pelo sequestro do pastor Raymond Koh, que está desaparecido desde 2017. Investigadores anteriores já haviam levantado a hipótese de que as autoridades o “desapareceram” por considerarem suas atividades uma ameaça ao Islã.
O tribunal atendeu ao pedido da esposa de Koh, Susanna Liew, e determinou uma indenização de 31 milhões de ringgits, equivalente a aproximadamente US$ 7.377.132. Em sua fala após o veredicto, Liew expressou gratidão pela decisão e afirmou que, embora não traga o pastor de volta, representa um passo importante para a família e uma forma de vindicação.
O pastor Koh foi sequestrado em plena luz do dia, em Kuala Lumpur, diante de testemunhas e câmeras de segurança. Sua família sempre defendeu a teoria de que a polícia esteve envolvida, alegação que as autoridades negaram. Investigadores da Comissão de Direitos Humanos da Malásia apontaram que ele foi capturado pela Divisão Especial da polícia, uma unidade de elite que o considerava uma ameaça ao islamismo tradicional.
Um relatório secreto revelou que “policiais corruptos” estavam por trás do sequestro e que o oficial responsável tinha “visões extremistas” em relação a cristãos e muçulmanos xiitas. A defesa argumentou que Koh foi alvo por ser suspeito de proselitismo, o que sua família contesta. Na Malásia, deixar o Islã é um crime, com severas punições, incluindo multa e prisão.
Além da indenização, o tribunal ordenou que a investigação sobre o desaparecimento de Koh fosse reaberta, com a intenção de localizá-lo. A quantia concedida à família será depositada em um fundo fiduciário, com a expectativa de que Liew e seus filhos sejam os beneficiários.
Antes de seu desaparecimento, o pastor Koh era uma figura ativa na Igreja Evangélica Livre e havia fundado a Harapan Komuniti, uma ONG voltada para o atendimento de comunidades marginalizadas, como pessoas vivendo com HIV/AIDS e dependentes químicos.
Em um caso paralelo, o juiz também considerou o governo responsável pelo desaparecimento de Amri Che Mat, concedendo a sua esposa uma indenização de cerca de 3 milhões de ringgits (aproximadamente US$ 713.916). Norhayati, esposa de Amri, expressou sua tristeza ao ainda não terem respostas sobre o paradeiro do marido.
Na Malásia, a população de etnia malaia compõe cerca de 50% do total, enquanto o restante é formado por chineses, indianos e tribos indígenas. A Constituição do país determina que todos os malaios étnicos são muçulmanos, e a evangelização de malaios é considerada ilegal. As leis estaduais impõem restrições severas sobre a prática de outras religiões, especialmente em um contexto em que o islamismo se torna cada vez mais influente nas políticas públicas.
Esse caso lança luz sobre um contexto complexo de direitos humanos na Malásia, onde a liberdade religiosa é frequentemente colocada à prova. O que você pensa sobre essa situação? Deixe sua opinião nos comentários e vamos continuar essa conversa.

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