Como a gordura se acumula no fígado e onde ela se instala no órgão

O acúmulo de gordura no fígado, conhecido como esteatose hepática, acontece quando as células do fígado, chamadas hepatócitos, retêm triglicerídeos em quantidades superiores ao que é saudável. O Ministério da Saúde informa que isso ocorre quando cerca de 5% ou mais dessas células acumulam gordura.

Embora muitas pessoas associem esse problema apenas à obesidade, especialistas indicam que ele pode afetar até mesmo indivíduos com peso normal. Isso depende de como o corpo lida com o excesso de gordura e açúcar no sangue.

A endocrinologista Paula Pires explica que esse acúmulo é resultado de desequilíbrios metabólicos. “A gordura no fígado aparece quando há mais energia disponível do que o corpo consegue usar ou armazenar adequadamente”, comenta.

Esse excesso de gordura pode ser proveniente da alimentação ou ser produzido pelo próprio fígado, especialmente quando há consumo excessivo de carboidratos simples.

“A resistência à insulina é um dos principais motores desse processo, pois desorganiza o armazenamento natural de triglicerídeos”, completa Pires.

O endocrinologista Marcio Mancini, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, reforça que o problema se inicia fora do fígado. Cada pessoa possui um limite natural de armazenamento de gordura subcutânea, que é determinado geneticamente.

“Quando o adipócito atinge sua capacidade máxima, o corpo começa a direcionar gordura para lugares inadequados, como o fígado”, explica. Esse acúmulo fora do lugar é chamado de gordura ectópica e ajuda a entender por que algumas pessoas magras também podem apresentar esteatose.

Gordura no fígado e resistência à insulina

Outro fator que contribui para o acúmulo de gordura é a resistência à insulina. Normalmente, a insulina estimula enzimas no tecido adiposo, que capturam triglicerídeos da corrente sanguínea e os transportam para dentro das células de gordura. Quando esse processo não funciona, a maior parte dos triglicerídeos é desviada para o fígado.

Mancini observa que isso sobrecarrega o fígado: “Nesse cenário, o órgão tenta gerenciar o excesso produzindo lipoproteínas de baixa densidade (VLDL), o que também facilita o acúmulo de gordura dentro das células hepáticas”.

Além disso, o fígado pode gerar gordura por meio de lipogênese, que aumenta com o consumo elevado de frutose, comumente encontrada em bebidas adoçadas.

A dieta desempenha um papel direto nesse desequilíbrio. O consumo frequente de ultraprocessados, açúcar, álcool e gordura saturada, assim como de bebidas adoçadas, aumenta a produção e o transporte de triglicerídeos. Em contrapartida, a ingestão de frutas, verduras, legumes, fibras e laticínios está associada a um menor risco de acúmulo.

Mesmo sem apresentar sintomas, o aumento da gordura abdominal é um dos primeiros sinais de gordura visceral em excesso, que inclui o fígado. Exames como ultrassom e transaminases podem ajudar a identificar o grau de comprometimento, enquanto a biópsia é reservada para casos específicos.

Uma boa notícia é que a esteatose hepática possui grande potencial de reversão nas fases iniciais. Perder aproximadamente 7% do peso corporal, ajustar a alimentação e praticar atividades físicas regularmente são medidas eficazes para reduzir a gordura hepática.

Identificar o problema o mais cedo possível aumenta as chances de impedir que o fígado continue acumulando gordura e evolua para condições mais graves.

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