Como governo transformou morto pela Rota em “líder do PCC”

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Principais pontos: 1) Carlos Alves Vieira, 48 anos, foi morto no dia 28 de novembro por policiais da Ronda Ostensiva Tobias Aguiar, a Rota, em Itaquaquecetuba, na Grande São Paulo. 2) A versão da PM afirma que Vieira seria um chefão do PCC, conhecido como Ferrugem, morto em troca de tiros; a reportagem apurou junto a fontes do governo paulista que não há indícios de liderança do PCC ligados a ele. 3) A fala do deputado Guilherme Derrite, em evento de despedida do secretário de Segurança Pública, citou Vieira entre lideranças neutralizadas pelo estado, notícia que gerou controvérsia. 4) O secretário da SSP deixou o cargo para concorrer ao Senado, em meio a críticas sobre o uso político das mortes pela polícia. 5) A versão da Rota sustenta que Vieira transportava armas e drogas em um Corolla prata; houve troca de tiros com três PMs, que efetuaram nove disparos com pistolas e fuzis; não havia câmeras corporais. 6) Segundo boletim policial, foram encontrados duas pistolas e dez tabletes de maconha; Vieira não possuía condenação na Justiça; apuração sobre possível ligação com o tráfico foi arquivada por falta de provas. 7) A família contesta as acusações, destacando que Vieira ajudava o bairro e era respeitado como advogado, empresário e pai.

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Metrópoles

Carlos Vieira

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Versão da Rota

Segundo a ocorrência, PMs da Rota receberam a informação de que Vieira carregava armas e drogas em um Corolla prata. Houve tiroteio, com três policiais disparando nove vezes com pistola e fuzis; o suspeito não resistiu. A polícia disse ter localizada duas pistolas e dez tabletes de maconha. O boletim aponta ainda que não havia câmeras corporais em uso pelos agentes.

Vieira não possuía condenação na Justiça. O único inquérito relacionado a ele, sobre tráfico, foi arquivado por falta de provas.

Mudança de tom

A família de Vieira reagiu, chamando de “narrativas” a versão de que ele seria faccionado. A Ouvidoria da Polícia informou que recebeu denúncias de inocência do advogado.

Ele havia acabado de tirar a carteira da OAB; publicou nas redes sociais para comemorar a conquista. A reportagem do UOL, Josmar Jozino, mostrou que o Ferrugem conhecido pela Ordem seria Adilson da Daghia, 56, condenado pelo assassinato de um juiz, hoje foragido.

Após os questionamentos, a polícia alterou o tom dos posicionamentos e a menção a lideranças do PCC foi sendo retirada, ainda que o governo continue apontando Vieira como faccionado.

“Sintonia Final”

Internamente, a Polícia Militar descreveu Vieira como a “síntonia final” do PCC na zona leste de São Paulo, atuando em Itaim Paulista, Ferraz de Vasconcelos, Itaquaquecetuba, Poá e Mogi das Cruzes. O relatório interno afirma que o advogado, conhecido como Ferrugem, teria crescido na facção e estaria ligado a rotas internacionais do tráfico, além da distribuição de drogas e armas em larga escala.

As informações foram repassadas pela cúpula da PM e circularam em grupos de WhatsApp. Para sustentar a ideia de liderança, foi citada uma investigação de 2022 sobre tráfico de drogas; Vieira foi alvo, mas o caso foi arquivado por falta de provas. Um trecho do IPM afirma: “Em que pese as diligências, não foi possível apontar com segurança o envolvimento dos investigados na prática do delito.”

“Em que pese as diligências encetadas e o esforço policial, não foi possível apontar com segurança o envolvimento dos investigados na prática do delito de tráfico de drogas, tampouco que estavam agindo associados para a comercialização ilícita de entorpecentes”

Essa suposta atuação ligada ao tráfico, citada pela polícia, parece ter surgido desse inquérito que, de fato, não comprovou crime.

Vieira também tinha antecedentes, como uma acusação de furto em 2009 no bairro Vila Gustavo, em Guarulhos, e depoimento como testemunha em 2011 sobre drogas encontradas em um imóvel no Itaim Paulista, com dois suspeitos presos na ocasião. Em 2017, houve uma queixa de cobrança de dívida de R$ 340 mil, com alegação de ameaças com arma, mas a polícia não encontrou ilícitos.

“Indícios”

Ao perguntar sobre a citação de Derrite de Vieira como “importante liderança do PCC”, a SSP disse que houve mudança no tom ao identificar o falecido como líder da organização criminosa. Em nota, a pasta informou que o Setor de Inteligência confirmou o “envolvimento” dele com o PCC e que, em investigações de 2022, surgiram “indícios” de vínculo com o crime organizado.

“A Polícia Militar reforça que dispõe de um Setor de Inteligência estruturado e robusto, responsável por monitorar indivíduos e grupos envolvidos em atividades criminosas, inclusive aqueles identificados por apelidos recorrentes no meio criminal. Toda operação é criteriosamente planejada, com base em informações técnicas e em observância à legislação vigente”

Segundo a SSP, a ação que resultou no homicídio de Vieira está sendo acompanhada por um Inquérito Policial Militar (IPM). O procedimento deve apurar todas as circunstâncias, inclusive as imagens de câmeras, que serão disponibilizadas à Polícia Civil para subsidiar as apurações na esfera da polícia judiciária.

Família

Uma familiar publicou uma defesa nas redes sociais, contestando as informações da polícia. Ela afirmou que “a ficha cheia de passagens só existe na história que a TV contou” e descreveu Vieira como alguém que ajudava o bairro, “respeitado como advogado, empresário e pai”.

Na Junta Comercial, Vieira constava como sócio de uma empresa de motocicletas em Itaquaquecetuba e estava registrado na OAB, seção Arujá, desde junho.

Agora, o caso segue sob investigação, com a expectativa de ouvir novas versões e reunir mais provas para esclarecer o que houve naquela noite.

E você, o que acha desta história? Deixe seu comentário com a sua opinião sobre o que ocorreu e como os fatos estão sendo apurados. Sua visão ajuda a entender diferentes lados desse caso.

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