Principais pontos: 1) a população de pinguins-africanos (Spheniscus demersus) na África do Sul vem diminuindo de forma expressiva; 2) estudo aponta que cerca de 95% dos casais que se reproduziram em 2004 nas ilhas Dassen e Robben morreram de fome nos oito anos seguintes; 3) a escassez de sardinhas, alimento principal, está por trás dessa mortandade; 4) os resultados devem orientar ações de manejo pesqueiro e estratégias de recuperação das aves; 5) o governo sul-africano já adotou medidas para proteger áreas próximas a Robben.
A pesquisa foi conduzida por pesquisadores do Departamento de Florestas, Pescas e Meio Ambiente da África do Sul, em parceria com a Universidade de Exeter, no Reino Unido. Os resultados foram publicados na Ostrich: Journal of African Ornithology em 4 de dezembro, quarta-feira.
De acordo com o estudo, as mortes ocorreram em função da queda na quantidade de sardinhas na costa, principal alimento dos pinguins.
“Entre 2004 e 2011, o estoque de sardinhas na costa oeste da África do Sul ficou consistentemente abaixo de 25% de sua abundância máxima, e isso parece ter causado uma grave escassez de alimentos para os pinguins-africanos, levando a uma perda estimada de cerca de 62 mil indivíduos reprodutores”, aponta o coautor do artigo, Richard Sherley, biólogo do Centro de Ecologia e Conservação, sediado na Universidade de Exeter.
A expectativa dos pesquisadores é que as conclusões incentivem a criação de estratégias de gestão para garantir a recuperação e a sobrevivência das aves a longo prazo. No ano passado, os pinguins foram classificados como “críticamente ameaçados de extinção” pela IUCN.
Falta de alimentos impacta pinguins na época da muda
Como tudo na natureza, o desaparecimento de pinguins está ligado a falhas em diferentes processos ambientais. A queda populacional começou justamente na época da muda, quando as aves ficam em terra por 21 dias sem se alimentar para trocar de penas.
Para enfrentar esse período sem comida, os pinguins acumulam reservas, mas a redução de sardinhas na região reduz as opções de alimentação, fazendo com que muitos não sobrevivam.
Para entender o tamanho do impacto, os pesquisadores analisaram o número de casais reprodutores e de pinguins adultos em muda nas ilhas Dassen e Robben entre 1995 e 2015. Em 2000, estima-se que ambos locais abrigavam cerca de 34 mil aves reprodutoras.
A pesquisa também examinou a expectativa de sobrevivência adulta com base em capturas, marcações e recapturas praticadas entre 2004 e 2011, método usado para estimar populações de animais em vida livre. Além disso, as taxas de sobrevivência e a proporção de recrutas que não voltaram para as colônias de muda foram comparadas com o índice de disponibilidade de presas na região.
“Altas taxas de exploração de sardinhas — que chegaram brevemente a 80% em 2006 — em um período em que a população de sardinhas estava diminuindo devido a mudanças ambientais, provavelmente agravaram a mortalidade dos pinguins”, afirma Sherley.
Segundo os cientistas, esse fenômeno não se restringe às ilhas de reprodução. É necessária uma atuação mais ampla ao longo da costa sul-africana. A principal medida seria recuperar a população de sardinhas, o que ajudaria a aumentar o número de pinguins.
“Abordagens de gestão da pesca que reduzam a exploração da sardinha quando a biomassa estiver abaixo de 25% do máximo e permitam que mais adultos sobrevivam até a desova, bem como aquelas que reduzam a mortalidade dos recrutas, também poderiam ajudar”, completa o biólogo Richard Sherley.
No início do ano, o governo sul-africano restabeleceu áreas de proibição de pesca ao redor da Ilha Robben, após acordos entre setores de conservação ambiental e indústrias pesqueiras locais sobre a necessidade de proteger as colônias de pinguins.
Como esse tema afeta a vida marinha e o equilíbrio da costa, compartilhe sua opinião nos comentários. O que você acha que pode ser feito para proteger os pinguins africanos e o ecossistema costeiro?

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