O drama carioca (por André Gustavo Stumpf)

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Ernesto Geisel, na década de 1970, traçou metas estratégicas para o Brasil crescer. O principal assessor, o general Golbery do Couto e Silva, defendeu a divisão de Mato Grosso do Sul em dois estados. O objetivo era estimular o desenvolvimento e agradar as duas partes. Também se planejou levar o crescimento para os vales úmidos do Maranhão, impulsionado pela força dos produtores da soja. A ideia sobre a antiga Guanabara, criada quando a capital se mudou para Brasília em 1960, era se fundir ao Rio de Janeiro para formar um estado maior, capaz de gerar mais riqueza. Havia, na época, o temor de que políticos fluminenses influenciassem os novos colegas. E aconteceu.

Os dois primeiros itens da estratégia para alavancar o crescimento econômico do país foram plenamente cumpridos. Os dois Mato Grosso tornaram-se um polo agroindustrial de grande dinamismo; o agronegócio lidera as exportações nacionais. O Maranhão, antes esquecido, passou a receber a força de produtores de soja e milho, tornando-se parceiro relevante do setor. A Embrapa teve papel importante nesse salto.

A divisão de Goiás ocorreu após a Constituinte, em 1988, graças ao empenho do deputado Siqueira Campos, que chegou a greve de fome para que o presidente José Sarney assinasse os atos que desafetavam um estado do outro, criando o Tocantins. Hoje, esse estado é autônomo e figura entre os maiores do agronegócio, com soja, milho e criação de gado fortes. O governo do PT chegou a tentar dividir o Pará em três estados, mas houve forte reação nativista e o projeto foi abandonado.

A história de fusões e divisões é marcada pela memória da antiga Guanabara, cuja identidade era associada à marcha Cidade Maravilhosa. Com a fusão, o estado enfrentou momentos de equilíbrio financeiro, realizou obras como o Aterro do Flamengo, buscou água potável no rio Guandu e planejou o Metrô. Também ficaram no radar grandes obras viárias, como o projeto da Barra da Tijuca, alinhadas ao plano de Lucio Costa. Bons tempos para a cidade do Rio; esse fica como o lado positivo dessa história.

Os militares que deixaram as funções nos quarteis de repressão acabaram contribuindo para o surgimento de milícias. Essas redes se conectaram ao tráfico internacional de drogas, ligado a prisioneiros organizados e a comandos estrangeiros do negócio da cocaína na América do Sul. Do conjunto disso nasceu uma realidade: o Rio de Janeiro, apesar de suas belezas, ficou para trás em relação a outras regiões. A prisão do presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacelar, por vazar informações confidenciais sobre o deputado Thiago Raimundo dos Santos Silva, o TH Joias, é ilustrativa. Bacelar não está sozinho: nos últimos anos, muitos governadores foram presos por corrupção.

De vez em quando, a polícia realiza operações pesadas nas linhas vermelha e amarela, com tiroteios em localidades vizinhas. Em uma ação recente, 121 pessoas foram mortas, e houve feridos com números não divulgados. O governador Cláudio Castro viu nisso uma oportunidade de fortalecer sua candidatura ao Senado. A cidade quer manter seu espírito acolhedor, mas os moradores desejam viver com menos medo de assaltos, tiros e mortes.

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