Em meio ao aumento da violência contra as mulheres em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) vê no voto feminino um dos principais desafios eleitorais para 2026.
Sondagens recentes mostram dificuldade de Tarcísio em conquistar a maioria entre as eleitora s, enquanto a primeira-dama, Cristiane Freitas, ganha espaço no Palácio dos Bandeirantes, ampliando a aproximação com esse segmento.
“Normalmente, os governadores paulistas tinham uma aprovação equilibrada ou superior do público feminino em relação ao público masculino. Tarcísio é o único governador desses últimos 20 anos que tem uma aprovação invertida. Ele tem uma aprovação acima de 10 pontos percentuais entre os homens em relação às mulheres.”
Em novembro, uma pesquisa do Atlas Intel mostrou Lula (49%) emparelhado com Tarcísio (47%) em um eventual segundo turno. Entre as mulheres, Lula aparece com ampla vantagem: 58% contra 25% de Tarcísio.
A mesma tendência foi observada pela Paraná Pesquisas, em levantamento de novembro. Na simulação de primeiro turno, Lula aparece com 36% e Tarcísio, 23,2%; entre mulheres, Lula tem 36,7% e Tarcísio, 18,5% — quase cinco pontos a menos no total.
Protagonismo da primeira-dama
Para aliados, uma estratégia para diminuir a rejeição entre mulheres é ampliar o protagonismo da primeira-dama Cristiane Freitas. Ela dirige o Fundo Social de São Paulo, órgão voltado à assistência social, que criou 45 cargos comissionados em dezembro.
Cristiane tem ganhado espaço ao lado do governador, seja nas redes sociais ou em eventos. Em 4 de dezembro, eles promoveram, no Palácio dos Bandeirantes, a formatura de alunos do programa “Escolas de Qualificação Profissional”, mantido pelo Fundo Social.
“Quando a gente olha o conjunto da obra, vê um governador que não fala apenas em ‘defender as mulheres’ no discurso, mas que está criando estrutura, protocolo, rede de apoio, capacitação e oportunidades reais para que as mulheres paulistas tenham segurança, autonomia e protagonismo”, disse a deputada Rosana Valle (PL-SP), presidente do PL Mulher de São Paulo e aliada de Tarcísio, ao Metrópoles.
Além da primeira-dama, Tarcísio busca representar mais mulheres em dois cargos-chave: Natália Resende comanda a Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil) e Mária Marton fica à frente da Secretaria da Cultura. A procuradora-geral do Estado, Inês Coimbra, já ocupava o cargo na gestão anterior.
A “encruzilhada” Bolsonaro
Definida como uma encruzilhada por apoiadores, a proximidade de Tarcísio com o ex-presidente Bolsonaro é um dilema para o governador. Quanto mais perto de Bolsonaro, mais o eleitorado feminino — além de outros grupos — pode se afastar, optando por opções “nem Lula nem Bolsonaro”.
A professora Maria do Socorro Braga, da Universidade Federal de São Carlos, lembra que a distância entre as pautas da esquerda e do bolsonarismo influencia a percepção das mulheres. Ela aponta que, para boa parte das eleitas, a agenda de costumes defendida pelo bolsonarismo não atua para reduzir a desigualdade de gênero.
“Esses candidatos defendem uma agenda, do ponto de vista comportamental e moral, que coloca a mulher no papel praticamente subordinado aos homens, com um papel muito mais de dona de casa. Aqueles papéis mais antigos, diferente de uma mudança que as mulheres vêm atravessando nas últimas décadas”
Feminicídio em alta
Casos de feminicídio e violência contra a mulher continuam a atrair atenção nacional e alimentam a expectativa de que políticas voltadas ao público feminino sejam decisivas nas eleições.
Dados do Instituto Sou da Paz mostram que os feminicídios no estado subiram de 188 em 2024 para 207 em 2025 — alta de 10,1%. Desde o início do governo de Tarcísio, em 2023, os feminicídios aumentaram 16,9% em São Paulo.
“O feminicídio é uma pauta muito desprestigiada na política. Se fala muito, mas se faz muito pouco em relação a esse assunto”, afirma a especialista em marketing político Jade Gandra Martins Dutra.
Para a especialista, a segurança pública costuma mobilizar eleitores de direita de forma agressiva em redes sociais, mas não cria uma conexão real com mulheres que não apoiam Bolsonaro.
Baixo orçamento
Tarcísio foi o primeiro governador paulista a criar uma pasta dedicada às mulheres. Contudo, a Secretaria de Políticas para as Mulheres tem o menor orçamento entre as pastas do governo. Em 2025, o montante é de R$ 36,2 milhões, com R$ 26,6 milhões suplementados ao longo do ano.
Para 2026, o governo projeta manter esse mesmo patamar relativo. O projeto de orçamento encaminhado à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) flexibiliza para R$ 16,5 milhões a cifra da pasta.
Segundo o governo, a secretaria atua como articuladora de políticas públicas, identificando necessidades e coordenando programas com outras secretarias e órgãos estaduais.
Como leitura final, a dupla tarefa de Tarcísio fica clara: manter o apoio de parte do eleitorado, especialmente entre homens, ao mesmo tempo em que busca ampliar o acolhimento entre as mulheres, diante de números de violência e de uma agenda de governança que privilegia áreas sociais estruturais.
E você, como enxerga o papel de políticas voltadas para mulheres na gestão pública de São Paulo? Compartilhe sua visão nos comentários e conte o que acha que pode fazer a diferença até 2026.

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