Semana de quatro dias vira realidade na Europa, mas não está só ligada ao bem-estar do trabalhador

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Duas mudanças na forma de trabalho na Europa ganharam destaque recentemenye: a implementação da semana de quatro dias no Reino Unido e a licença menstrual para as mulheres na Espanha. Ambas as medidas têm como principal objetivo melhorar o bem-estar dos colaboradores e aumentar a produtividade. Segundo Joe O�??Connor, CEO da 4 Day Week �?? projeto responsável pela redução da jornada de trabalho �?? �??à medida que emergimos da pandemia, mais e mais empresas estão reconhecendo que a nova fronteira para a concorrência é a qualidade de vida�?�, o que faz �??o trabalho com uma jornada reduzida e focado na produção ser uma forma de dar a elas uma vantagem competitiva�?�.

O projeto vai durar seis meses e começou a ser implementado na segunda-feira, 6, em 70 companhias do Reino Unido, e 3.300 colaboradores vão participar do piloto. Juliet Schor, professora de sociologia do Boston College e pesquisadora principal do piloto, explica que, durante esse tempo, eles vão analisar como �??os funcionários respondem a um dia extra de folga em termos de estresse e esgotamento, satisfação no trabalho e na vida�?�. Desde do início de 2022, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a considerar como doença o Burnout �?? fenômeno ligado ao trabalho e que desgasta o profissional. Esse experimento tem como objetivo combater esse fenômeno que cresceu durante a pandemia. Entretanto, ele não é uma novidade: outros países já adotaram essa medida em seu dia a dia, como Emirados Árabes, Islândia, Bélgica, Estados Unidos e Japão.

japão

Semana de 4 dias já é uma realidade há tempos no Japão e foi implantada como forma de fomentar a economia �??Pixabay/Sofia Terzoni

Entretanto, apesar de prezar pelo bem-estar profissional e pela produtividade, Schor considera que esse não será o único benefício. �??A semana de quatro dias é geralmente considerada uma política de dividendos triplos, ajudando funcionários, empresas e o clima�?�. Os especialistas vão além e falam que essa alteração também tem a ver com a questão econômica do país. Jouberto Cavalcante, professor de diretos trabalhistas do Mackenzie, fala que esse assunto não é nada novo e está presente há tempos na sociedade porque �??os trabalhadores passaram a revindicar alguns benefícios, entre eles a jornada de trabalho�?�. Isso está associado ao fato dos �??Estados não terem mais força contra o poder econômico que passou a ditar as regras, já que os países não conseguem avançar nos direitos sociais�?�, explica Cavalcante, acrescentando que, quando o trabalhador tem mais tempo, ele consegue se dedicar a outras funções que vão além do seu próprio bem-estar. �??No Japão a proposta foi econômica. Você reduz a jornada e fomenta a economia�?�, aponta, ao lembrar que houve incentivo para que �??os japoneses fizessem pequenas viagens e saíssem e passeassem mais�?�. �??Não é algo pensando só no bem-estar�?�, finaliza.

Um cenário parecido acontece quando o assunto é a licença menstrual. Há quem defenda e fale que se trata de uma forma de igualdade para as mulheres. Entretanto, também existe um debate sobre como  pode dificultar a contratação dessas profissionais pelo fato delas terem mais um benefício. Para Adriana Gomes, gerente de carreiras da ESPM, esse assunto está associado a uma política pública e vai complicar a contratação de mulheres porque já há uma lei que diz que, quando a pessoa tem alguma doença, ela pode se afastar do trabalho, e isso deve ser implementado para quem sofre com uma menstruação mais grava. A ginecologista Erica Mantelli afirma que esse decreto será válido para mulheres que possuem uma menstruação dolorosa e que provavelmente apresentam quados de endometriose e adenomiose. Ela afirma que, mais do que um projeto de lei, é necessária uma conscientização sobre a �??menstruação dolorosa�?� e que não se deve normalizar esse tipo de problema. �??A menstruação é um fenômeno fisiológico e não deve ser mais um estigma�?�.

A pandemia incentivou algumas mudanças na forma de trabalho, como o home office e o trabalho híbrido, e elas tendem a ser ainda mais comuns. Fabíola Marques, professora de direito trabalhista da PUC, afirma que cada vez mais teremos mudanças muitas delas estão associadas ao crescente desenvolvimento da tecnologia e à nova geração. �??Vão acontecer de forma mais rápida, e é uma tendência, um caminho sem volta�?�, aponta. Adriana Gomes concorda. Para ela é �??importante estarmos atentos ao que acontece no mundo, e a pandemia trouxe uma quebra de paradigmas�?�. Ed Siegel, CEO do Charity Bank, que está participando do piloto da 4 Day Week, é um entusiasta dos trabalhos mais flexíveis. Ele conta que há tempos defende esse estilo, porém, �??a pandemia realmente mudou as balizas�?�. O CEO faz uma contextualização e diz que �??o conceito do século 20 de uma semana de trabalho de cinco dias não é mais o mais adequado para os negócios do século 21�?�. Siegel acredita que uma semana de quatro dias sem alteração de salário ou benefícios criará uma força de trabalho mais feliz e �??terá um impacto igualmente positivo na produtividade dos negócios, na experiência do cliente e na missão social�?�.

Ed Siegal - CEO - Charity Bank

Ed Siegal, CEO do Charity Bank �??Divulgação: 4 Day Week Campaign

Para o neurologista Fabiano Abreu, �??folga demais perde o ritmo e adapta o cérebro, que opta pela economia de energia�?�. Ele defende que �??uma ou duas folgas de forma alternada num determinado período são necessárias para a homeostase do organismo�?�. Quanto questionado sobre o aumento da produtividade com a redução da jornada de trabalho, Abreu aponta que isso varia de pessoa para pessoa porque �??tem cérebros que conseguem uma eficácia que em pouco tempo resolvem o que outros não conseguem�?�. O especialista também aponta que não é só a flexibilidade que faz com que as pessoas aumentem sua produtividade. Também existem outros pontos que precisam ser trabalhados pelas empresas, como otimização e administração do tempo, possibilidade de crescimento, investimentos em cursos e horários e espaços flexíveis. 

Os especialistas divergem do posicionamento sobre a implementação de uma semana de quatro dias no Brasil. Para Cavalcante, é difícil que essa medida seja adotada aqui. Segundo ele, no país �??não terá jornada reduzida�?�. Adriana acha que dá para sonhar com esse cenário, apesar de demorar um tempo para ele se tornar realidade. Contudo, ela cita fatores importantes que precisam ser considerados. �??Se isso for uma lei, complica muito por causa da discrepância que temos�?�. Diferentemente dos países onde estão sendo testados esse método, �??no Brasil temos um índice de desemprego muito alto relacionado à falta de qualificação�?�. Fabíola caminha para o mesmo raciocínio. A professora diz ser possível adotar esse tipo de serviço e acredita que seja uma saída para diminuir a quantidade de desempregados. Porém, para isso, é necessário investimento em �??educação, tecnologia para que os colaboradores tenham capacidade de adotar esse mercado novo que está surgindo�?�.

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