Reportagem do Fantástico aponta irregularidades no tratamento de internos da Fundação Dr. Jesus

Publicado:

A Fundação Dr  Jesus foi alvo de uma denúncia do programa Fantástico da TV Globo que apontou irregularidades em comunidades terapêuticas que acolhem dependentes químicos espalhadas pelo Brasil. A Fundação fica em Candeias, Região Metropolitana de Salvador e é vinculada ao deputado federal Pastor Sargento Isisório (Avante).
 
Entre as práticas flagradas pela reportagem estão castigos físicos e racionamento de comida, segregação e repressão sexual, doutrinação religiosa interferindo no cuidado médico, ações são condenadas por especialistas e pelo Conselho Federal de Psicologia.
 
Na instituição baiana, a repressão sexual ganhou destaque. Em um trecho da  matéria, Isidório é flagrado afirmando que pessoas transgênero são diabólicas: “Você deixou o Diabo lhe enganar. Você deixou o médico cortar seu pé de sofá. Ela só pensa que tem bilau. O Diabo diz ao homem que ele pode ser mulher, aí ele se veste todo, bota silicone”. Mais adiante, com um facão na mão, ele zomba da medicina: “Meu psiquiatra chegou. Seu psiquiatra chegou”. Além disso, monitores e ex-internos falam de uma rotina de castigos, com internos que chegam a ficar três dias só comendo arroz.
 
Ao longo dos anos, as comunidades terapêuticas têm recebido cada vez mais dinheiro público, repassado por municípios, estados e pela União De acordo com a apuração do Fantástico, a Fundação Dr. Jesus recebeu do Governo da Bahia, desde 2015, um repasse no valor de R$ 84 milhões.
 
Em nota, a gestão estadual informou que os investimentos na Fundação Dr. Jesus seguem a lei. Também afirma que não vai admitir qualquer ação que atinja a dignidade e os diretos das pessoas e que possui uma forte política de inclusão e combate ao preconceito contra pessoas LGBTQIA+. Afirmou também que a denúncia será apurada.
 
Já o Pastor Sargento Isidório disse ser um colaborador voluntário da Fundação Dr. Jesus principalmente na orientação pastoral que busca salvar vidas e famílias. O parlamentar acrescentou que perguntas técnicas e administrativas devem ser feitas para a instituição, que não respondeu.
 
As comunidades existem no Brasil desde a década de 70 e vêm crescendo muito nos últimos cinco anos. A Federação Brasileira de Comunidades Terapêuticas acredita que existam hoje perto de 80 mil pessoas acolhidas, e perto de 5 a 6 mil comunidades terapêuticas espalhadas por todo o país.
 
O período de internação e o programa de acolhimento variam de instituição para a instituição, mas, segundo estudiosos, todas partem do mesmo princípio.”As comunidades terapêuticas brasileiras têm como âncora do seu trabalho o tripé ‘trabalho, disciplina e espiritualidade'”, diz Débora Gomes Medeiros, psiquiatra e pesquisadora de saúde coletiva da Unicamp.

Comentários Facebook

Compartilhe esse artigo:

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Polícia Civil prende em flagrante zelador acusado de provocar incêndio em condomínio no Rio Vermelho

A Polícia Civil da Bahia prendeu em flagrante um zelador de 42 anos, acusado de agredir uma moradora e provocar um incêndio em...

Van com paciente de Utinga colide com cavalo solto na BA-130

Uma van que transportava pacientes de Utinga, na Chapada Diamantina, sofreu uma colisão com um cavalo solto em um trecho da BA-130, próximo...

Ex-prefeito de Piraí do Norte é condenado pelo TCE a devolver R$ 1,3 milhão ao estado por obras não executadas

O ex-prefeito de Piraí do Norte, Ulysses Veiga, foi condenado pelo Tribunal de Contas do Estado da Bahia (TCE-BA) a devolver mais de...